Clipping Banco Central (2020-09-16)

(Antfer) #1

A importância da solidariedade


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Notas e Informações
quarta-feira, 16 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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No dia 10, o Conselho de Facilitação do Acelerador do
Acesso às Ferramentas da Covid-19 (ACT), criado em
abril pela Organização Mundial da Saúde (OMS),
realizou seu encontro inaugural. É um marco na
colaboração global pelo desenvolvimento e distribuição
de vacinas, terapias e diagnósticos. Os resultados são
expressivos. Só a busca conjunta pela vacina empenha
170 países; dez candidatas estão em avaliação, nove
em testes clínicos, duas no estágio final. "É possível
imaginar o começo do fim", disse o diretor da OMS,
Tedros Adhanom, em artigo na Economist. "Há uma
chance de que até o final do ano vacinações em massa
possam começar para pessoas de alto risco." Mas há
uma chance de que estas perspectivas sejam borradas,
não por limitações materiais ou científicas, mas
políticas.


Segundo o ACT, ainda são necessários US$ 35 bilhões
para a meta de produzir 2 bilhões de doses de vacinas,
245 milhões de tratamentos e 500 milhões de testes.
"Sem uma infusão de US$ 15 bilhões nos próximos três
meses, começando imediatamente, perderemos uma
janela de oportunidades", alertou o secretário-geral da
ONU, António Guterres. Grupos de pesquisadores falam


em US$ 100 bilhões para uma produção rápida e
massiva de vacinas. Comparados aos US$ 7 trilhões a
US$ 10 trilhões injetados para estimular a economia,
não é muito. Mas as dificuldades, mais do que
financeiras, são políticas.

"Os negócios e os governos precisam entender que o
futuro não é uma disputa de soma zero na qual os
vencedores vencem somente se alguém perde",
disseram Bill e Melinda Gates em artigo no Financial
Times. Um estudo patrocinado por sua fundação
modelou dois cenários: no primeiro, os 50 países mais
ricos monopolizam os primeiros 2 bilhões de doses de
vacinas; no segundo, as doses são distribuídas
globalmente com base na população, não na riqueza de
cada país. No segundo cenário, a vacina pode evitar
61% das mortes contadas a partir de setembro. No
primeiro morreriam o dobro das pessoas, e a doença
continuaria a se espalhar descontroladamente por
quatro meses em três quartos do mundo.

As consequências econômicas seriam desastrosas. "Se
algumas nações forem totalmente vacinadas, suas
economias melhorarão um pouco, mas não há cenário
em que uns poucos países retomem à prosperidade
enquanto a pandemia se alastra por todo o lado, as
cadeias de fornecimento seguem quebradas e as
viagens internacionais suspensas", alertou o casal
Gates.

Assim, uma abordagem cooperativa "é tanto
moralmente correta quanto o meio mais inteligente de
avançar", disse Adhanom. "Nenhum país tem acesso a
toda a pesquisa e desenvolvimento, à produção e à
cadeia de fornecimento de insumos e medicamentos.
Portanto, usar os suprimentos finitos estratégica e
globalmente é do interesse nacional de cada país, não
um ato de altruísmo."

O programa de vacinação do ACT, o Covax, prevê a
distribuição proporcional (de acordo com a população) e
escalonada (de acordo com os focos de risco) para os
seus membros. Isso evitaria picos de preços em alguns
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