Clipping Banco Central (2020-09-16)

(Antfer) #1

FÁBIO ALVES - A dívida na corda bamba


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Economia
quarta-feira, 16 de setembro de 2020
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Autor: FÁBIO ALVES


Na semana passada, o Tesouro realizou um megaleilão
de títulos públicos e o investidor se assustou com o
tamanho da oferta, exigindo taxas de juros bem mais
salgadas para seguir financiando o governo. O temor é
que, com a crescente incerteza para a trajetória fiscal, o
financiamento da dívida pública federal (DPF) entre
numa espiral sem volta: juros cada vez mais altos e
prazos mais curtos.


A oferta de Letras do Tesouro Nacional (LTN), um título
prefixado, foi a maior da história, com um lote de 43
milhões desses papéis ante 30,5 milhões na semana
anterior. A oferta de outro papel prefixado, as Notas do
Tesouro Nacional - Série F (NTN-F), quintuplicou,
passando de 300 mil na semana anterior para 1,5
milhão.


Já a venda de Letras Financeiras do Tesouro (LFT), um
papel atrelado à variação da Selic, correspondeu
apenas a um pouco mais da metade da oferta, de até
500 mil títulos. Muitos analistas atribuíram isso à Selic
estar no seu menor nível histórico e com perspectiva de


se manter baixa por um período prolongado.

Na sua última reunião, quando cortou a Selic para
2,0%, o Copom discutiu o risco de que os juros já
haviam caído para um patamar baixo suficiente para
gerar instabilidade financeira, incluindo menor demanda
por títulos públicos. Com a queda na remuneração, os
investidores poderiam migrar de fundos de renda fixa,
como os DI, compradores naturais de títulos públicos,
para outras aplicações.

Acontece que, apesar de o Tesouro ter sido forçado a
pagar mais caro e a encurtar o prazo médio do seu
endividamento, a demanda por títulos públicos não
sumiu nem caiu drasticamente mesmo depois que o
Copom reduziu a Selic para 2,0%. Portanto, o limiar
dos juros que pode levar a uma dificuldade de
financiamento da dívida pública é abaixo desse
patamar.

O que causou surpresa com o tamanho do último leilão
de títulos públicos foi que a oferta ocorreu na esteira da
transferência de R$ 325 bilhões do lucro cambial do
Banco Central para o caixa do Tesouro. Com esse
reforço, os analistas não apostavam que o Tesouro
tivesse de emitir tantos papéis nem pagar taxas tão
elevadas.

"Uma coisa é o mercado discutir diariamente as
ameaças ao teto de gasto, a possibilidade de saída do
ministro Paulo Guedes do governo ou o financiamento
do programa Renda Brasil, outra é ver a materialização
do risco fiscal naquele leilão: o Tesouro precisando
tomar muito mais dinheiro emprestado pagando taxas
elevadas", diz o sócio e economista-chefe da BlueLine
Asset, Fábio Akira. "De repente, o investidor acordou
para o tamanho dessa necessidade de financiamento do
Tesouro e agora ficou desconfiado da sustentabilidade
fiscal do Brasil no médio e longo prazo."

Diante do aumento de gastos para combater os
impactos da pandemia do coronavírus, o déficit primário
neste ano pode ultrapassar R$ 800 bilhões e a dívida
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