O Dia (2020-09-17)

(Antfer) #1
DE RESPEITO E TOLERÂNCIA

Zona Oeste

N (^) A conscientização das crian-
ças não deficientes pode de-
senvolver um ambiente mais
propício para a aprendizagem,
segundo o psicólogo e professor
do IBMR Carlos Linhares. “Esse
trabalho de inclusão nas esco-
las é de extrema importância,
ajuda a desenvolver na crian-
ça desde cedo a percepção e o
reconhecer da diferença, seja
ela qual for. Assim é criado um
ambiente de mais tolerância
e acolhimento, esse ambiente
confortável permite que os dois
lados aproveitem melhor todas
as oportunidades de aprendiza-
gem”, afirma o especialista.
Além dos benefícios a curto
prazo, Carlos também reforça
que iniciativas como essa geram
uma mudança cultural, forman-
do adultos mais conscientes.
“É evidente que isso tem efeito
para os dois lados, tanto para a
criança que se torna mais cons-
ciente e acolhedora quanto para
as crianças com deficiência que
se sentem parte daquele espa-
ço. Como consequência, tere-
mos adultos mais conscientes
no futuro”.
Os frutos para a educação
FOTOS DIVULGAÇÃO
Iniciativa de
moradora da Zona
Oeste promove a
inclusão de crianças
com deficiência
nas escolas da rede
pública
E
m um ato de empatia e dedicação,
empreendedora social se dedica
a ensinar a Linguagem Brasilei-
ra de Sinais (Libras) nas escolas,
para crianças sem deficiência, em busca
de transformar as instituições em um es-
paço de respeito e inclusão. Moradora
da Zona Oeste do Rio, Rosiane Mello, de
36 anos, atua nos espaços promovendo
oficinas educacionais com personagens
de pano que representam crianças com
deficiências variadas, como a paralisia,
autismo e Síndrome de Down.
Mãe do Arthur, de nove anos, e da Ma-
riane, de quatro, Rosiane encontrou no
ambiente escolar dos filhos a motivação
de que precisava para desenvolver o pro-
jeto. “Quando meu filho era mais novo
nós tivemos uma dificuldade de adaptar
ele na escola, por conta de um coleguinha
de classe que tinha suspeita de autismo.
Tinha questões de comportamento mui-
to recorrentes, então eu fui até lá para
entender o que estava acontecendo, e fui
surpreendida por essa situação”, conta.
“Quando olhei para aquele cenário,
o que vinha na minha cabeça era a vida
daquela mãe, tentei me colocar no lu-
gar dela e quis entender quais eram as
dificuldades e desafios. Isso me atingiu
muito como mãe, então eu queria fazer
alguma coisa para ajudar, queria instruir
o meu filho para incluir aquela criança,
assim comecei a estudar o processo de
inclusão”, completa a empresária.
Antes de começar a atuar na área, Ro-
siane teve o desafio de entender uma rea-
lidade distinta da dela. Então, envolvida
em muitas pesquisas, resolveu tirar o an-
tigo projeto da cabeça: “Comecei a ouvir
as famílias das crianças com deficiência,
e quando questionava qual era o maior
desafio, eles sempre respondiam que não
era lidar com a deficiência da criança,
mas com a exclusão que ela sofria”.
Ela explica que trabalha com 25 per-
sonagens de pano e cada um representa
uma criança com deficiência. “Temos per-
sonagens cadeirantes, autistas e portado-
res da Síndrome de Down, por exemplo.
Eu levo os personagens, apresento para
as crianças, conto histórias sobre a vida
deles e é uma troca muito boa, eles en-
tendem que aquele personagem é uma
criança igual a ele”.
Um dos diferenciais dessa iniciativa é
a inclusão reversa, que consiste em tra-
balhar com as crianças sem deficiência,
para que elas recebam o amigo com defi-
ciência. “Trabalho de onde parte a exclu-
são. Se eu preparo essa criança para isso,
ela não vai se tornar um adolescente ou
um adulto preconceituoso, ela entende e
respeita as diferenças. Pegamos as crian-
ças da educação infantil, que estão ini-
ciando na escola, desenvolvendo laços”,
acredita Rosiane.
Atualmente, a empreendedora está
com um novo projeto no Espaço de De-
senvolvimento Infantil Clarice Lispec-
tor, no Rio das Pedras, visando o ensi-
no de Libras. “Esse ano começamos um
trabalho chamado ‘Amigos da Inclusão’,
trabalhamos nas escolas com contação
de histórias e atividades pedagógicas,
para também a ensinar a Língua Brasi-
leira de Sinais”.
Com a chegada da pandemia, o projeto
foi interrompido e Rosiane começou a
postar vídeos com a filha nas redes so-
ciais, mas tem planos de voltar. “Agora
lançamos um canal no YouTube, onde co-
locamos videoaulas ensinando Libras, eu
e a minha filha. Mas temos planos de re-
tornar ano que vem, após todo esse ajuste
que vai acontecer na retomada das aulas”.
Isso me atingiu
muito como mãe,
então eu queria
fazer alguma coisa
para ajudar, queria
instruir o meu filho
para incluir aquela
criança”
ROSIANE MELLO,
empresária
UM SHOW
Antes da pandemia,
as oficinas estavam
acontecendo no Espaço
de Desenvolvimento
Infantil Clarice
Lispector, no Rio das
Pedras
Reportagem do estagiário Maria Clara Matturo,
sob supervisão de Gustavo Monteiro
2 QUINTA-FEIRA, 17. 9. 2020 I O DIA

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