O Dia (2020-09-17)

(Antfer) #1
Niterói& região

ARTE E PENSAMENTO


Tayara em ‘A
Mandrágora’: pai dela,
estudioso de plantas
medicinais, preparou
remédios naturais para
todo o elenco

DIVULGAÇÃO/DIEGO PADILHA

DO COLUBANDÊ PARA O MUNDO


Gonçalense Tayara Maciel, de 25 anos, põe no palco experiência de aprimoramento na Europa


Artista tem formação
na Escola Villa-Lobos
e na Universidad de
Valladolid cursou
música

T


em chão à beça entre
a casa da atriz Tayara
Maciel, no Coluban-
dê, São Gonçalo, e a
Zona Portuária, no Rio, onde
a moça de 25 anos trabalha.
Uma hora para ir, outra hora
para voltar, somando ônibus
e VLT. Ela mal sente o tem-
po passar. Lê no caminho.
Diz que faz pensar. É de fa-
mília. Ela estudou na Escola
Técnica de Teatro Martins
Penna, e cursou Turismo na
UNIRIO. A irmã, Francisca,
20, ganhou bolsa 100% para
cursar biologia na PUC-Rio e
a caçula, Joana, de 17, estuda
no Instituto Federal de Bio-
tecnologia, na Tijuca.
“É fundamental saber
questionar o mundo, a so-
ciedade em que vivemos, o
Brasil, tudo”, afirma. Tayara é
segura no que defende. Cada
vez mais. Está ajudando a
organizar e também será es-
pectadora do curso “Pensa-
mento Crítico - Cultura e Di-
reitos Humanos”, que a Com-
panhia Ensaio Aberto, sedia-
da no Armazém da Utopya,
na Zona Portuária, realizará
de graça em outubro.
“Esta será a segunda tur-
ma do curso, que é aberto
para todos, independente da
profissão. Na primeira, a res-
posta foi incrível. Teve gente
do Rio Grande do Norte, de
Pernambuco, da periferia
do próprio Rio de Janeiro e
até de Portugal assistindo as
aulas”, empolga-se. “Desde
2018 sou atriz, assistente de
produção e operacional da
Companhia Ensaio Aberto”.
Tayara diz que foi simples
assim. “Aos 10 anos falei com
minha mãe que queria fazer
música e teatro, então come-
cei a estudar música com a
Agnes Moço e iniciação no
Sesc São Gonçalo, com Rei-
naldo Dutra.
Fez também a faculda-
de de Turismo na UNIRIO,
plano B para o caso de fal-
tar dinheiro para os boletos.
Justamente por conta dessa
faculdade, em 2017, concor-
reu e ganhou bolsa para in-


> A Companhia Ensaio Aber-
to, fundada em 1992 por Luiz
Fernando Lobo e Tuca Mo-
raes, faz do palco uma arena
de discussão da realidade. O
curso “Pensamento Crítico


  • Cultura e Direitos Huma-
    nos” faz parta da plataforma
    digital da Companhia. As
    inscrições estão abertas de
    21 a 27 de setembro. São 20
    vagas. O resultado será 5 de
    outubro e o início das aulas
    dia 9 e término em 31 de ou-
    tubro. Aberto a artistas, pro-
    fessores estudantes e leigos.
    Para se inscrever acessar o
    link https://bit.ly/cursopen-
    samentocritico e responder o
    formulário de inscrição, com
    envio de currículo e carta de
    intenção.
    Quadro de professores
    abordará ferramentas teó-
    ricas para a análise crítica
    da realidade brasileira nos
    campos cultural, social, ju-
    rídico, político e econômi-
    co, promovendo um debate
    sobre os impactos da atual
    crise mundial nos múltiplos
    aspectos dos direitos huma-
    nos, com destaque para os di-
    reitos culturais. A iniciativa
    é parte do projeto “Cultura,
    Direitos Humanos e Pensa-
    mento Crítico”, iniciado no
    ano passado com 03 fóruns
    de debates, 02 cine-debates
    e 01 seminário realizados no
    Armazém da Utopia. O pro-
    jeto também contempla o
    lançamento de 01 vídeo e de
    02 livros sobre os temas de-
    batidos nas atividades pre-
    senciais e no curso online. O
    curso é realizado pelo Insti-
    tuto Ensaio Aberto em parce-
    ria com o Instituto Joaquín
    Herrera Flores que tem exce-
    lência em cursos internacio-
    nais sobre o tema. O projeto
    tem apoio do Ministério da
    Cidadania.


Curso para


expansão do olhar


sobre a realidade


tercâmbio na Universidad
de Valladolid, Espanha, para
cursar música pelo Progra-
ma IberoAmericano Santan-
der Universidades. Fez tam-
bém mímica, curso intensi-
vo de Commedia Dell’Arte
e outros.

ENTRADA NA COMPANHIA
“Ao retornar, entrei para fa-
zer oficina na Companhia
Ensaio Aberto. O diretor
Luiz Fernando Lobo desen-
volve muito o pensamento
crítico. Depois de cada ses-
são dos nossos espetáculos,
os atores vão ao encontro da
plateia para conversar sobre
o trabalho, é parte da nossa
função social”, reflete. Ela fez
parte dos elencos das mon-
tagens de “Que tempos são
esses?”, “Estação Terminal”,
“Luz nas trevas” e “A man-
drágora”. Como produtora
trabalhou em “Canto negro”.
Filha da arte-educadora
e escritora Luciene Prado e
do estudioso de plantas me-
dicinais Fernando Fratante,
Tayara é cria do Colubandê.
Os pais se conheceram na
região, onde também vive
a família. Fratante é pes-
quisador respeitado. Tem
receita de remédio natural
para tudo. “Na época em
que a companhia montou
‘A Mandrágora’, que exigia
muito esforço físico, meu
pai preparava diversos po-
tes de sucupira e muita po-
mada de arnica para aliviar
as dores do elenco. Aqui
no Colubandê a gente
acha erva plantada
na rua. E no nosso
quintal é grande
a quantidade
de plantas”. É
no teatro que
ela se cura
de tudo. “Sa-
ber que faço
parte de uma
companhia
formada por
artistas tam-
bém periféricos, é
motivo de orgulho”,
encerra.

Armazém da Utopya, sede da Companhia Ensaio Aberto,
em que trabalha a atriz Tayara Maciel, que mora no
Colubandê

2 QUINTA-FEIRA, 17. 9. 2020 I O DIA

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