Clipping Banco Central (2020-09-17)

(Antfer) #1

Roberto Lent - Leiam com as crianças


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Sociedade
quinta-feira, 17 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

Clique aqui para abrir a imagem

Autor: Roberto Lent Neurocientista, professor emérito da
UFRJ e pesquisador do Instituto D?0r


Pais e professores angustiados com a validade dos
vários meios de lidar com as crianças em casa, durante
o fechamento das escolas: esse é o cenário atual. Mas,
na verdade, a dúvida se estenderá aos anos seguintes à
pandemia. O que é melhor para crianças pequenas? Ler
para elas os livros disponíveis? Contar histórias
oralmente? Ou apelar para as cativantes telinhas com
desenhos animados?


Pelo que indica uma série de estudos recém-publicados
de pesquisadores israelenses e norte-americanos, a
leitura compartilhada é a melhor pedida. Isso porque
reduz a extrema mobilização da atenção visual que as
telas exigem, e compensa a baixa motivação que os
áudios produzem, permitindo maior ativação da
imaginação e do raciocínio, que os livros estimulam.


Os pesquisadores estudaram crianças de 3 a 5 anos,
comparando vários indicadores de neuroimagem por
ressonância magnética com medidas de avaliação de
atenção e compreensão, durante e após a contação de


histórias em três situações experimentais. As histórias,
escritas pelo mesmo autor e semelhantes em conteúdo
e forma, eram contadas em sequência: apenas por
áudio, depois por áudio com imagens, e ao fim por
vídeos animados.

Foram estratégias para simular a contação de histórias
sem livros, a leitura compartilhada de livros, e os
desenhos animados da TV e de outras telas. Essas três
formas de contar histórias, levando em conta a atenção
e a compreensão das crianças, foram relacionadas com
a intensidade da conversa entre as áreas do cérebro (a
conectividade das redes neurais).

Os resultados obtidos sublinharam o diferente
envolvimento do cérebro das crianças para as diversas
modalidades de vivenciar aquelas historinhas
maravilhosas que tanto as seduzem. Maior atenção à
percepção visual, nas animações. Faz sentido. Maior
atenção à percepção auditiva e linguística nas
historinhas narradas em áudio. Também faz sentido.

Mas a melhor mobilização do cérebro foi com a
narração ilustrada, como ocorre na leitura compartilhada
de livrinhos entre crianças e adultos. Isso porque a
ativação das redes cerebrais da imaginação e da
compreensão das narrativas superou até mesmo a das
histórias contadas por desenhos animados, que
sobrecarregam a memória operacional e a atenção
visual em detrimento da imaginação.

Os resultados acompanham as recomendações da
OMS e da Sociedade Brasileira de Pediatria, baseadas
em trabalhos similares que relatam prejuízos para a
atenção, as funções executivas e a estrutura cerebral do
uso precoce e exagerado das telinhas digitais. Os
trabalhos que relatei vão na direção oposta: relatam
benefícios dos velhos livros que usamos há milênios.

Confirmou-se o "efeito Goldilocks" (cachinhos
dourados), assim chamado pelos neuropsicólogos em
homenagem à personagem dos "Três ursinhos" (se a
memória não ajudar, confiram na internet). Histórias
Free download pdf