Clipping Banco Central (2020-09-17)

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BERNARDO MELLO FRANCO - A festa do general


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - País
quinta-feira, 17 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Depois de quatro meses, Jair Bolsonaro se lembrou de
nomear um ministro da Saúde. O escolhido foi o general
Eduardo Pazuello, que já ocupava a cadeira como
interino. Quando ele assumiu, em maio, o país contava
13 mil mortos pela Covid. Ontem o número ultrapassava
os 133 mil. Isso significa que nove entre dez vítimas
morreram na gestão do militar.


Pazuello é o terceiro titular da Saúde desde o início da
pandemia. Os dois anteriores caíram por resistir à
pressão de Bolsonaro para distribuir remédio sem
eficácia comprovada. O general chegou com uma
vantagem: como não é médico, não precisa rasgar o
diploma para fazer as vontades do chefe.


Na primeira semana no cargo, ele mostrou que sabe
obedecer e receitou o uso da cloroquina. Em seguida,
dedicou-se à tarefa de transformar o ministério num
quartel. Demitiu técnicos em saúde para abrir espaço a
coronéis, majores e capitães.


O general foi apresentado como um especialista em
logística. Mesmo assim, não conseguiu evitar a falta de
suprimentos nos hospitais. Sua gestão só mostrou


eficiência para esconder informações. Os veículos de
comunicação precisaram montar um consórcio para
manter o público informado sobre a evolução da
doença.

A posse de Pazuello foi coerente com sua obra até aqui.
Em tom festivo, o general afirmou que o Brasil tem "um
dos maiores quantitativos de pessoas recuperadas no
mundo". Faltou dizer que o país aparece em segundo
lugar no ranking de mortes.

O governo ignorou as recomendações sanitárias e
voltou a aglomerar convidados no Planalto. Bolsonaro
aproveitou para atacar a imprensa e fazer propaganda
da cloroquina. Na contramão dos epidemiologistas, ele
afirmou que o país não deveria ter fechado as escolas
na pandemia. Depois disse que 30% das mortes teriam
sido evitadas com o falso remédio milagroso.

Segundo o Capitão Corona, os governadores que
decretaram medidas de distanciamento foram "tomados
pelo pânico" e "impulsionados pela mídia catastrófica".
Ele, ao contrário, teria sido ousado e corajoso. "Não me
acovardei, não me omiti", elogiou-se.

Depois de quatro meses como interino, o general
Pazuello virou titular do Ministério da Saúde. A
cerimônia de posse foi coerente com sua gestão até
aqui

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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