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O Globo/Nacional - Opinião
quinta-feira, 17 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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A nomeação por Richard Nixon de um notório medíocre
para a Suprema Corte americana foi defendida com o
argumento de que a mediocridade também precisava
ser representada num governo. Presumivelmente por
modéstia, Nixon não se escalou entre os medíocres
representativos.


Podería ter se autodefinido como um exemplo extremo
do que uma democracia tem de admirável, a
oportunidade, pelo menos teórica, que oferece a
qualquer um de chegar à Presidência da República. É
verdade que o mesmo exemplo serve para o que uma
democracia tem de mais perigoso, a oportunidade que
oferece a qualquer um mesmo um Nixon, um Trump ou,
meu Deus, um Bolsonaro & Filhos de chegar à
Presidência da República.


Faça um teste. Se pergunte o que você prefere, o velho
ideal ciceroniano de uma casta preparada para o poder,
à prova de qualquer medíocre e com o direito divino de
governar, mas dada a injustiças e calhordices como
toda aristocracia, ou o ideal democrático da igualdade
de oportunidades, pelo menos teórica, com o risco de
eleger qualquer um.


O mesmo Nixon, noutro contexto, falando sobre a
economia americana na sua época, soltou uma frase
surpreendente: "Somos todos keynesianos, agora". A
era Nixon, que terminou com sua renúncia depois do
escândalo Watergate, não teve nada a ver com Keynes,
que defendia a interferência do Estado na economia e
pregava a responsabilização social da política financeira
internacional desde o fim da Segunda Guerra Mundial -
o que leva a crer que Nixon leu os livros errados, ou se
preparava para aderir a Keynes quando foi derrubado.
Hoje a era Nixon é vista como uma espécie de
antessala da era cuja frase-tema foi dita não por um
economista ou um político, mas pelo Michael Douglas
no papel de Gordon Gekko, a fera de Wall Street no
filme do mesmo nome, do Oliver Stone. A frase é:
"Greed is good" (Ganância é bom). E a ganância
desenfreada que move a era dos trilionários e gerentes
de fundos sem escrúpulos e agita o sono sem descanso
de Keynes.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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