Clipping Banco Central (2020-09-17)

(Antfer) #1

O que Bolsonaro almeja na eleição municipal


Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
quinta-feira, 17 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Difícil um candidato presidencial não aproveitar um
pleito municipal para tentar montar uma falange de
prefeitos e vereadores que possam ajudá-lo na
campanha pela permanência no Planalto. Por isso
mesmo, por mais que diga o contrário, é inevitável o
envolvimento do presidente Jair Bolsonaro, virtual
candidato à reeleição em 2022, nas eleições municipais
deste ano.


Não é, reconheça-se, empreitada isenta de riscos. Ela
impõe a Bolsonaro dilemas de naturezas diversas. Para
começar, qualquer apoio de Bolsonaro pode transformar
a eleição numa espécie de plebiscito sobre o
presidente. Quer dizer: aderrotado apoiado jogará
estilhaços no candidato de 2022.


É o que explica a vacilação do presidente no Rio, sua
base eleitoral. O prefeito Marcelo Crivella, candidato do
Republicanos, já esteve próximo de obter apoio de
Bolsonaro. As denúncias do Ministério Público, porém,
abalaram a relação. Candidato denunciado se toma
radioativo. É sintomático que o concorrente do PSL à
prefeitura carioca, o deputado federal Luiz Lima, seja
incensado pelas hostes bolsonaristas.


Em São Paulo, mesmo que os sinais de Bolsonaro
sejam mais claros, eles não garantem o apoio do
bolsonarismo. O deputado Celso Russomanno, também
do Republicanos, conhecido por ser bom de partida e
mim de chegada, conta com apoio de Bolsonaro e
pediu-lhe ajuda para atrair o PSL. Mas o partido lançou
Joice Hasselmann, ex-bolsonarista. Se fosse possível, o
presidente aumentaria seu poder de fogo para fustigar
Bruno Covas (PSDB), que atraiu DEM e MDB para seu
projeto de reeleição, e tentar faturar a derrota do
arquiadversário João Doria, esteio de Covas. Mas seu
eleitorado vai rachado ao primeiro turno.

Ao espalhar apoios pelo país, Bolsonaro testa a
influência do auxílio emergencial, cujo efeito populista já
provou - e gostou (se atrair o voto em regiões pobres, o
risco é ele mandar logo às favas a responsabilidade
fiscal para criar seu Renda Brasil de olho em 2022).

Outro fator que facilita a vida de Bolsonaro é a cláusula
de barreira. Ao impedir coligações em pleitos
proporcionais, ela reduz o número de legendas nos
Legislativos e leva os partidos a lançar candidatos mais
competitivos. O presidente tende a se tomar, por mera
gravidade, um polo de atração nas disputas, sobretudo
no segundo turno.

Também conspira a favor de Bolsonaro o fracasso das
esquerdas na costura da tal "frente ampla" contra ele.
Em São Paulo, o PT, ao lançar o controvertido Jilmar
Tatto, rachou o partido. Petistas históricos apoiam
Guilherme Boulos (PSOL). No Rio, Marcelo Freixo
(PSOL) sofreu pressão para se lançar, mas a legenda
manteve a chapa da deputada estadual Renata Souza,
sem apoio do PT, que lançará Benedita da Silva. A
esquerda também vai às umas dividida em Salvador e
no Recife.

As umas deixarão claro o tamanho do movimento
bolsonarista e das diversas alternativas para formar
polos contrários ao presidente em 2022: com João Doria
ou Sérgio Moro; PT ou Flávio Dino; Ciro Gomes ou até a
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