Clipping Banco Central (2020-09-17)

(Antfer) #1
A bem-vinda coalizão que une ONGs e agronegócio em defesa da
Amazônia

Banco Central do Brasil

O Globo/Nacional - Opinião
quinta-feira, 17 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Nem tudo são cinzas no claudicante cenário ambiental
do país. É boa notícia a coalizão que une, na defesa da
preservação da Amazônia, representantes do
agronegócio, do setor financeiro e de organizações não
governamentais (ONGs), num total de mais de 200
integrantes que, historicamente, nem sempre estiveram
do mesmo lado.


Na terça-feira, a Coalizão Brasil Clima, Florestas e
Agricultura enviou ao governo, à Câmara e ao Senado
seis propostas para conter o desmatamento e as
queimadas na Amazônia, problemas que têm
degradado a imagem do Brasil no exterior, prejudicando
negócios, investimentos e acordos comerciais. Oito
países europeus mandaram anteontem carta ao vice-
presidente, Hamilton Mourão, alertando que o aumento
da devastação dificulta a compra de produtos
brasileiros. Nada há de mirabolante nas propostas da
coalizão, apenas o óbvio que só o governo Bolsonaro
não enxerga. O grupo defende reforço nas ações de
fiscalização; suspensão, no Registro do Cadastro
Ambiental Rural, de áreas ocupadas irregularmente;
transformação de dez milhões de hectares em áreas de
proteção e uso sustentável; respeito aos critérios


socioambientais nas operações de crédito;
transparência nas autorizações para supressão de
vegetação; e suspensão dos processos para
regularização fundiária onde houve desmatamento após
julho de 2008.

Esse raro consenso é ativo valioso num campo marcado
por dissensões - e passo importante para solucionar os
graves problemas ambientais da Amazônia. Mas o
governo precisa se engajar nessa luta. Para isso, tem
de abandonar a postura negacionista, um grande
desafio. No discurso que fará na Assembléia Geral da
ONU, no dia 22, Bolsonaro deverá dizer que as críticas
às queimadas no Brasil são equivocadas. Mourão
afirmou ontem que "há uma visão distorcida sobre
desmatamento ilegal e queimadas na Amazônia". Um
dia antes, acusara o Inpe de divulgar apenas os dados
desfavoráveis ao governo. Ambos continuam fugindo
aos fatos.

O movimento pela preservação da Amazônia acontece
em momento crucial, não só para o Brasil. Os incêndios
prolongados que devastam o Pantanal e a Costa Oeste
dos Estados Unidos, agravados pelos efeitos
inequívocos do aquecimento global - desprezado pelo
negacionismo climático de Donald Trump e Bolsonaro - ,
são um alerta para as consequências do descaso com o
planeta.

Ao mirar um futuro melhor, a coalizão eclética
representa uma saída otimista, dada pela sociedade e
pelo mercado, para preservar a Amazônia, ainda que à
revelia do governo. Executivo e Legislativo precisam
ouvi-la, antes que seja tarde demais.

Assuntos e Palavras-Chave: Cenário Político-
Econômico - Colunistas
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