Clipping Banco Central (2020-09-17)

(Antfer) #1

Visto, lido e ouvido


Banco Central do Brasil

Correio Braziliense/Nacional - Opinião
quinta-feira, 17 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Circe Cunha (interina) //
[email protected]


Projetos ou jogos


Nenhum cidadão, cônscio de suas obrigações, pode
negar a relevância para a sociedade e para a economia
das chamadas pautas sociais. Bolsa Família, auxílio
emergencial e outros programas de complementação de
renda fazem bem para o país, ajudando na diminuição
das desigualdades históricas de nossa nação. Ocorre
que a descontinuidade forçada de muitos desses
inúmeros programas a cada governo que chega -- com
a criação de outros, com selos mais personalistas e de
acordo com o marketing político -- acarreta, à
semelhança do que ocorre na amaranhada teia de
impostos e tributos, um amontoado que governo algum
consegue implementar.


É nesse labirinto de programas, muitos deles
construídos apenas para atender agendas e interesses
políticos específicos, que boa parcela da sociedade que
trabalha, produz e paga uma das mais altas cargas
tributárias do planeta é lançada e busca salvar-se não


de um leão, mas de uma horda de minotauros, cada vez
mais famintos. As equipes de economia de todo e
qualquer governo, formadas por refinados experts nas
ciências financeiras, integram o Executivo não para
resolver questões e equações, como as trazidas por
programas sociais que não têm porta de saída, mas
para descobrir novos corredores por onde seguir o Fisco
para arrecadar mais e com mais rapidez.

Agora, com o programa Renda Brasil, ocorre o mesmo
fenômeno. Não fosse a pandemia e a desidratação
brutal de uma economia que estava na antessala da
UTI, o Renda Brasil seria lançado com muita festa e
muita propaganda. Abandonado pelo próprio governo
que o criou em seu departamento de programas sociais
e de marketing, o projeto, parece, será adotado
estrategicamente pelo Congresso, afinal, com eleições,
sempre se avizinhando, é preciso ter cautela, senão, os
votos somem.

É nesse filão populista que seguem, desde sempre,
todo e qualquer projeto desse e de outros grupos
políticos. Obviamente, que tema tão espinhoso como
esse não pode ser tratado com realismo, senão, os
índices de popularidade desabam e a condenação ao
fogo perpétuo é certa. "Estamos, como dizia o escritor
Balzac, na primeira metade do século XIX, caminhando
para um estado horrível de coisas. Em caso de
insucesso, não haverá mais que leis penais ou ficais: a
bolsa ou a vida."

Na realidade, o termo projeto, ao se referir às pautas
sociais, não é preciso. O mais certo seria chamá-las de
jogo, pois a eventualidade de darem certo para o
governo depende não apenas de sua capacidade de
blefar, mas da sua convicção de que a sociedade não
conhece as regras do que está sendo jogado. Com isso,
a única preocupação desse e de qualquer outro governo
é encontrar novas fontes de financiamento para que o
jogo prossiga. E é nesse ponto que a equipe econômica
concentra todos seus esforços. A busca de programas
sociais e financeiramente racionais é deixada de lado,
pois iria requerer projetos de longo prazo e, sobretudo,
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