Clipping Banco Central (2020-09-17)

(Antfer) #1

CELSO MING - O frio e o tamanho do cobertor


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Economia
quinta-feira, 17 de setembro de 2020
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Quando o cobertor é curto, quem está tiritando sob os
lençóis tem uma entre três escolhas. Pode esticar até
onde não mais puder o cobertor e estará sujeito a
rompimento do tecido; pode deixar de fora os pés ou
outra parte do corpo; ou pode adotar a postura
imortalizada pelo cantor Adoniran Barbosa, ou seja,
pode acreditar e fazer crer que "Deus dá o frio conforme
o cobertor".


Não foi por entendimento unilateral que, há apenas três
semanas, o ministro da Economia, Paulo Guedes,
vinha defendendo a criação do Renda Brasil, destinado
a estender o cobertor da renda mínima para os mais
pobres, com recursos provenientes da redução de
despesas em outras áreas sociais - no caso, com o fim
do abono salarial, do Programa Farmácia Popular e do
seguro-defeso (que dá cobertura aos pescadores na
temporada de reprodução dos peixes). Mas, ainda
assim, Bolsonaro mandou suspender o Renda Brasil,
sob a argumentação de que "não tiraria dos pobres para
dar aos paupérrimos".


Também não foi por iniciativa unilateral que o ministro
Guedes passou a defender o lançamento do mesmo


Programa Renda Família com o fim da correção
automática do salário mínimo e das aposentadorias. A
desindexação era conversa antiga dentro do próprio
governo, como era também o projeto de desoneração
dos encargos sociais.

Foi o próprio Bolsonaro que autorizou estudos e
vazamentos tanto sobre o congelamento do salário
mínimo e das aposentadorias quanto sobre a volta da
CPMF, ainda que com outra roupagem e com outro
nome.

Enfim, a ideia do big bang, que atenderia às prioridades
eleitorais do governo, a ser deflagrado com essas
propostas ou equivalentes, foi agora enterrada pelo
presidente Bolsonaro, com uma nova ameaça: a de
levantar o cartão vermelho para alguém da equipe
econômica, que Guedes diz não ser ele próprio.

A questão de fundo é a de que Bolsonaro quer, mas não
quer e, por querer e não querer, não sabe o que fazer
com o cobertor orçamentário curto demais.

O abortamento dos projetos encorpados pela inicial D
(desindexar, desonerar, desobrigar), defendidos pelo
ministro Paulo Guedes, só tem uma contrapartida
positiva: o de até agora renunciar a perfurações no teto
das despesas. Mas, ainda que algo turbinado, não
evolui do Bolsa Família para o Renda Brasil, não
desonera as folhas de pagamentos, não concorre para o
aumento do emprego e não diz como pretende avançar
nas reformas tributária e administrativa e também nos
projetos de desenvolvimento.

Uma das hipóteses é a de que, comojá aconteceu com
outros superministros (Sérgio Moro e Luiz Henrique
Mandetta), Paulo Guedes está esvaziado e já não tem
o que fazer no governo.

O problema é que não é ele o principal obstáculo para
alguma coisa acontecer. Se Guedes fosse apeado de
sua montaria, e completasse a debandada que alcançou
cinco dos seus principais auxiliares, também o ministro
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