Clipping Banco Central (2020-09-17)

(Antfer) #1

ZEINA LATIF - A inflação pegou Covid 19, mas sobrevive


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Economia
quinta-feira, 17 de setembro de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Banco Central

Clique aqui para abrir a imagem

A atual taxa de juros do Banco Central fixada em 2%
ao ano não compensa a taxa de inflação corrente
(2,4%) e a expectativa futura (3,1% para os próximos 12
meses). Juro real negativo não é novidade em nossa
história, mas por razão diferente. Antes do Plano Real,
com a inflação em aceleração, as surpresas
inflacionárias recorrentes produziam, com frequência,
juros reais negativos. Agora temos a Selic baixa por
conta da recessão, em um contexto de perspectiva de
ajuste das contas públicas. Mesmo assim, há efeitos
colaterais que precisam ser monitorados, pois impactam
a política monetária.


Um primeiro ponto é a busca de investidores por
alternativas mais atrativas de investimento. Não me
refiro aqui ao aumento de 52% no número de
investidores na Bolsa em agosto em relação a março,
totalizando 3 milhões. Eventuais excessos na exposição
a risco de investidores não impactam as decisões de
política monetária, ainda que esse debate tenha
crescido depois da crise global de 2008-09.


Há, porém, outras decisões dos investidores
provocadas pelos juros negativos que podem gerar alta


da inflação.

Um exemplo é o investimento em imóveis. Segundo o
Secovi, houve aumento de 33% nas vendas de
unidades residenciais novas na Região Metropolitana de
São Paulo em julho na comparação anual. Em termos
de Valor Geral de Vendas, a alta foi de 61%. Nada mau
neste quadro de incertezas. Claro que parte das vendas
decorre de aumento da demanda por moradia. Há
relatos, no entanto, de elevado interesse de investidores
que querem diversificar sua carteira.

Qualquer que seja a motivação, já se observa um
impacto sobre preços. O Índice Nacional da Construção
aponta alta de 4,5% aa na primeira leitura de setembro
ante 4,0 em abril passado. Considerando apenas o
custo dos materiais e serviços, a alta atingiu 7,1% ante
3,3%.

Outra manifestação dos juros baixos é, possivelmente, a
maior pressão e volatilidade cambial. Nota-se uma
grande mudança de padrão de comportamento do real.
A depreciação têm sido mais intensa do que os modelos
sugeririam e a volatilidade aumentou, não só em relação
ao padrão do passado, mas também na comparação
com uma cesta de moedas de países emergentes. Tem
algo novo aqui. Algo além do maior risco fiscal, que tem
se refletido na alta do Credit Default Swap (funciona
como um preço de seguro contra calote da dívida
soberana). E o candidato forte é a taxa de juros baixa.

Não há, por ora, maiores preocupações com repasses
do dólar a preços ao consumidor, mas não convém
descuidar. A inflação de bens finais no atacado (exclui
"in natura" e combustíveis) ficou em 12,2% aa na
primeira leitura de setembro, puxado principalmente
pela alta do dólar. O valor está atipicamente descolado
do equivalente (aproximado) de inflação ao consumidor,
abaixo de 2%. Quando o varejo for recompor seus
estoques, encontrará preços mais salgados.

Finalmente, a inflação ao consumidor está contida, mas
talvez nem tanto assim. Um ponto já discutido neste
Free download pdf