Clipping Banco Central (2020-09-17)

(Antfer) #1

Daniel Martins de Barros - Corre, que tristeza te pega


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Especial
quinta-feira, 17 de setembro de 2020
Cenário Político-Econômico - Colunistas

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Autor: Daniel Martins de Barros


Como muitas pessoas nos últimos meses, encontrei na
pandemia uma desculpa excelente para muita coisa.
Conseguimos nos livrar de compromissos e obrigações
indesejáveis colocando a responsabilidade nas costas
da covid-19. Infelizmente, essa estratégia alcançou a
minha prática de atividade aeróbica - o que pode ser
muito perigoso.


Há anos - muito antes de pensarmos numa pandemia -,
já se sabe que a atividade física é uma aliada
importante em nosso bem-estar. Trata-se algo até
intuitivo: praticamente todo mundo que experimenta
algum exercício relata uma sensação agradável, tanto
imediatamente após a prática como ou algo mais
perene que vem com a regularidade. Quando a ciência
despertou para o tema, encontrou resultados
animadores, comprovando formalmente a melhora da
qualidade de vida. E não só: sintomas de transtornos
mentais, como depressão e ansiedade, também
melhoram com a atividade física. E ela é capaz inclusive
de reverter em algum grau a perda de memória que vem
com a idade. Até mesmo atividades recreativas


informais, como passear de bicicleta ou caminhar pelo
parque, ajudam a reduzir os impactos negativos da
depressão.

Trata-se também de uma maneira de prevenção
primária - aquelas estratégias que visam impedir o
surgimento da doença. Uma espécie de vacina, por
assim dizer. Tanto os exercícios físicos aeróbios como
os anaeróbios ajudam a retirar da circulação sanguínea
substâncias associadas ao estresse. Menos
estressados, menos risco de adoecimento emocional.

O perigo que corri ao parar a natação - vinha nadando
há cerca de quatro anos - é que os efeitos dos
exercícios não são definitivos. Eles promovem o bem-
estar, mas não é como se nós entrássemos na posse
definitiva desse estado emocional agradável após certo
tempo. Infelizmente, não é assim. Conforme nos
exercitamos, mantemos os benefícios, mas, uma vez
interrompida a atividade, seus efeitos logo se perdem.
Em pacientes com depressão, por exemplo, a volta dos
sintomas pode ser percebida em questão de dias a
semanas.

Veja então o risco que foi pararmos nossas atividades
físicas exatamente quando elas se faziam mais
necessárias. Neste momento de tensão, incerteza,
preocupação, tristeza, em que o grande estresse a que
todos fomos submetidos colocou em maior risco o
nosso estado emocional, nunca foi tão necessário
recorrer a todos os métodos disponíveis para nos
mantermos bem.

Felizmente, após alguns meses fazendo apenas
algumas rotinas de exercícios de força, bateu a culpa e
resolvi tentar a corrida. Com orientação de minha
professora, ensaiei as primeiras passadas nessa que é
uma das práticas esportivas mais populares ao redor do
mundo. E, já no primeiro dia, entendi o motivo: a
sensação de bem-estar que vem após correr é tão
recompensadora que nos faz querer que chegue logo o
próximo dia de atividade. Eu ouvia relatos de corredores
sobre isso, mas sinceramente tinha dificuldade de
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