Clipping Banco Central (2020-09-17)

(Antfer) #1

WILLIAM WAACK - Desentendimento ao quadrado


Banco Central do Brasil

O Estado de S. Paulo/Nacional - Política
quinta-feira, 17 de setembro de 2020
Banco Central - Perfil 1 - Banco Central

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Autor: WILLIAM WAACK


Como indivíduo, o ministro da Economia, Paulo
Guedes, está provando ao mercado que resiste mais a
pancadas do que inicialmente se supunha. Mas o que
importa para agentes econômicos - a confiança na
reputação - foi bastante danificada.


Nem tanto por um presidente errático que só pensa
naquilo (reeleição) - isto estava, como se diz em
economês, "precificado". Mas, sobretudo, pela rápida e
imprevisível mudança dos dados da realidade que
impuseram ao governo uma radical alteração de rumo
para adaptar assistencialismo (imperativo imediato
político e humanitário) à catástrofe fiscal que o próprio
Guedes anunciou (problema que vem de longa data).


Se é que existia anteriormente um rumo claramente
definido e sendo implementado. Parece que não havia,
além de um conjunto de diagnósticos sobre causas de
um país estagnado aliado a frases fortes de efeito
eleitoral prometendo "mudar tudo que está aí". O que se
evidencia agora, porém, é a ausência de plano para
além da contingência.


Bolsonaro entrou numa armadilha nem um pouco
original: obrigado a gastar o que não tem. Está, de fato,
tolhido por um orçamento engessado que a falta de
vontade e articulação políticas contribuíram para deixar
no lugar. Sufocado por uma crise fiscal cujo tratamento
depende (sim, é repetitivo) de eficaz movimentação
POLÍTICA para superar obstáculos rumo a reformas
essenciais, como a tributária e a administrativa.

E pressionado pelo calendário eleitoral dos deputados,
já voltados para as eleições municipais, e o dele
mesmo, o da reeleição. Nesse ambiente, Bolsonaro se
rebela com seus característicos arroubos ("cartão
vermelho para quem falar em Renda Brasil") como
quem de repente é confrontado com uma realidade
profundamente desagradável: a da situação para a qual
não existem saídas mágicas.

Foi essa singela constatação que o levou a esbravejar
contra a própria equipe econômica, da qual ele
obviamente desconfia que lhe prometeu mais do que
seria capaz de entregar. Quer continuar prestando ajuda
emergencial, que proporciona excelentes dividendos
políticos? Então vai ter de cortar em algum outro lugar.
Quer criar um benefício social permanente, para chamar
de seu? Então precisa rever outros.

Não se sabe exatamente quanto Bolsonaro ouve do
tanto que Guedes fala, mas até aqui o mantra tem sido
repetido com ênfase: não haverá furo no teto de gastos.
Pode-se chamar investidores internacionais ou
detentores de títulos brasileiros de míopes ou abutres
(palavra preferida por argentinos, por exemplo), mas é
fato que eles estão com a atenção concentrada num só
aspecto, que é a questão fiscal.

Vem daí - do acompanhamento da evolução da dívida
bruta do País em relação ao PIB, e como a política trata
disso - uma outra constatação relevante para a equipe
econômica: o principal fiador de sua credibilidade hoje lá
fora já não é tanto Paulo Guedes, mas, sim, o
presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto.
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