Placar - Edição 1467 (2020-09)

(Antfer) #1

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pelé 80


set | 2020

intimidade


A bola do gol 1 000 de 1969, o sombrero do jogo 100 pela
seleção, incontáveis troféus, diplomas e medalhas...
— o repórter Michel Laurence e o repórter fotográfico
Sebastião Marinho revelaram a extraordinária
coleção pessoal que o Rei guardava em casa

tesouro


especial


Uma enorme coroa de ouro,
com uma enorme bola de prata
por cima. Abaixo dela um sorri-
so amigo, que muita gente já
tentou definir. A seus pés, em
cima de uma mesa de centro,
um tesouro. Ouro, prata, pedras
preciosas misturam-se numa
fantasia que só a imaginação
consegue alcançar. Um pouco
separadas, na mesa, estão uma
bola de futebol e uma camisa
branca, de pano comum de al-
godão. Parecem destoar no meio
desse tesouro. Só que na camisa
branca estão bordados o escudo
do Santos Futebol Clube, duas
estrelas douradas e um enorme
10 em preto, nas costas. Foi com
essa camisa e essa bola que Pelé
conseguiu o milésimo gol de sua
fantástica carreira. “Sabe, vou
mandar isso tudo para a expo-
sição que o Bobby Moore, o ca-
pitão da seleção da Inglaterra,
está organizando. Já fiz o segu-
ro, que deve ser aprovado. Só a camisa avaliei em 60 000 dólares (300 000
cruzeiros)”, diz. Para todos os troféus e coroas que estão sobre a mesa, Pelé
pediu um seguro de 300 000 dólares. “Muitos dos meus troféus já sumiram.
A camisa azul da CBD, da final da Copa do Mundo de 1958, sumiu numa
exposição, para a promoção do meu filme (O Rei Pelé), e nunca mais apare-
ceu”, lembra o Rei. Na mesma mesa também está um sombrero todo de prata
e trabalhado com desenhos como os verdadeiros chapéus mexicanos. “O
povo mexicano é um dos melhores que conheço. A ele devemos um pouqui-
nho do tri. Vocês podem não acreditar, mas não tenho ideia de quantos tro-
féus e medalhas ganhei até hoje. Só em medalhas tenho mais de 2 000.”
Pelé agora está na rua. Uma menina vem correndo, com um sorvete na
boca, e o puxa pela manga. Mostra um caderno e uma caneta, sem dizer
nada. Pelé sorri, abaixa-se, assina o autógrafo e a menina sai correndo.
“Meu maior troféu não está em nenhuma prateleira”, diz. “Meu maior te-
souro foi ter ajudado a fazer o Brasil conhecido pelo mundo.”

Pelé com a bola do milésimo gol ( à e s q .)
e com uma coroa dada pelo governo de
minas Gerais após marcar o gol 1 000
no maracanã: “dizem que ela é muito
antiga, do tempo da escravidão, que
pertenceu a um conselheiro”

SEbAStião MARinho

Publicado em 24 de julho de 1970

SEbAStião MARinho

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