Época - Edição 1158 (2020-09-21)

(Antfer) #1
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medalhistade bronzena Olimpíadado Rio
em 2016.Só nesteano,cincoanos depois,
Nory se desculpoupelasofensas. Em um
post no Instagramno início do mês,oatleta
classificousua atitudecomouma“imbecili-
dade”,disseque “já passouda hora”dese
desculpareafirmou que se envergonha do
que fez com Assumpção.Além do caso de ra-
cismo, um relatório interno do clubePinhei-
ros, obtidopela TV Globo,mostrou que uma
sériededenúnciasdeassédio moralidentifica-
das na ginástica da instituição, de 2013 a2019,
também não levouaqualquer punição.Em
resposta, oclube disse que repudia as atitudes
denunciadas, masnão se justificou pornão ter
afastadoosacusados.

L


uisaParente, ex-ginastaepioneirana
modalidadeno país, ganhadorade duas
medalhasde ouropan-americanas,pon-
derouque avulnerabilidadedas crianças
no esporteseria aportade entradapara
comportamentos de “má índole”ou “doen-
tes”.Comentaristade ginásticaartística
na TV,Parente lembrouda necessidade
de conheceros próprioslimites.“Eupas-
sei pelosquatro lados:fui atleta,professo-
ra, gestoraesportivaemãe de atleta.São
fatoresque fazempartede umacenaem
que cadaum deveatuar paraque os limi-
tes nãosejamultrapassados.Nãopode
existiro“custeoque custar”em ambien-
te nenhum”,disseela, que hojeésecretá-
ria nacional da AutoridadeBrasileirade
Controlede Dopagem(ABCD).
Muitosatletasnem sequerpercebem
que estão inseridos em umasituaçãoabusi-
va, em razãodacultura de rigidezatrelada
ao treinoesportivoprofissional.Durante
suaspassagenspela seleçãobrasileiraepelo
Flamengo,Parente foi treinadapor Geor-
getteVidor,técnica campeã econhecidape-
lo rigorepelaintransigência. “Nem sei
quantas atletas já treinei na minhavida,
masagrandemaioria delashojesão mi-

nhasamigas. Deveteruns 10%que, por
não alcançarumaperformancedesejadae
não gostardo meutemperamento,pode ser
que hojenão gostemde mim”,disseatéc-
nicade 62 anos,que começou na profissão
aos 15 eéatualmente coordenadoratécnica
da ginásticaartística do Flamengo.
Para Vidor,arigidezérequisitodo pró-
prioatleta.“Muitasvezesaexigênciaédo
próprioatleta.Elesnão queremsaberde
treinadorque vai levá-losalugarnenhum.
Altorendimento épara poucos”, disse.Ela
definiu aconvivênciaextremaentre atleta e
treinadorcomoumarelação de amor,mas
deixouescapar umaformade interferência
que transcendearelação profissional. “Ao
mesmo tempo que era muito rígida,eu ti-
nha muito carinho. Nãodeixava que minhas
atletasnamorassemparanão atrapalharno
treinamento”, exemplificou atreinadora.A
técnicadisse ainda que nuncapresenciou
nenhum tipo de abuso,sexualou moral,du-
rante seuslongosanostrabalhandocomgi-
nástica, masafirmou“considerarnormal”,
na relaçãoentre atletas mulhereseprofessores

PARAGEORGETTEVIDOR,TÉCNICADOFLAMENGO
EEX-TÉCNICADASELEÇÃOBRASILEIRA,ARIGIDEZNOTREINO
ÉREQUISITODOATLETAEMBUSCADEMELHORARA
PERFORMANCE,ENÃOABUSO.“MUITASVEZESAEXIGÊNCIA
ÉDOPRÓPRIOATLETA.ELESNÃOQUEREMSABER
DETREINADORQUEVAILEVÁ-LOSALUGARNENHUM.
ALTORENDIMENTOÉPARAPOUCOS”,DISSE

JBBX

ASDORESDOOURO

Luisa Parente(acima)
diz que acultura da
rigidez no esportenão
pode ultrapassar
os limites do atleta
Oginasta Angelo
Assumpção(acima,
na fotodadireita)
ficousem clube esem
patrocínio depois de
denunciar um
caso de racismo
em um clube paulista
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