l.
os Kansa, os Osage e os Winnebago. E, em estado vestigial cada vez
menos nítido, entre os grupos ocidentais. Faltam principalmente entre os
Arapaho e os Cheyenne. Reaparecem nos níveis primitivos da Califórnia
Central. Finalmente, foi só desde uma dezena de anos, mas com uma
riqueza que tem toda a força de uma demonstração, que a organização
dualista foi posta em evidência entre as culturas mais primitivas da
América do Sul. Se a organização dualista, presente pelo menos em prin·
cípio entre os Nuer, nas tribos do ramo Lobi e nos Bemba da Rodésia
Setentrional", parece contudo mais rara na Africa do que em outros
lugares, seria possível mostrar que, mesmo nos casos em que está au-
sente, persistem certos mecanismos de reciprocidade que lhe são fun·
cionalmente equivalentes. Assim, entre os Nuer do Nilo Branco, cujos
clãs continuam ainda hOje a se dividirem em grupos exogãmicos, en·
contra·se o seguinte mito de origem: "Um tal Gau, descido do céu, ca·
sou·se com Kwong (sem dúvida, também ela chegada do céu em data
anterior) ... e teve com ela dois filhos, Gaa e Kwook, e um grande nú·
mero de filhas. Como não dispunha de ninguém com quem casá·las, Gau
designou várias de suas filhas para cada um dos dois filhos, e a fim de
evitar as calamidades resultantes do incesto, realizou a cerimônia de "cor-
tar em dois um bezerro no sentido do comprimento"... e decretou que
os dois grupos poderiam casar-se entre si, mas nem um nem outro em
seu próprio interior ... '" O mito explica evidentemente a origem teó·
fica dos pares exógamos. Ora, o mesmo autor diz-nos que entre os Bari,
que não conhecem esta dicotomia, a mesma Usplitting ceremony" é ce-
lebrada quando há incerteza sobre as relações de parentesco entre os
dois noivos. Assim pois, neste último caso, o risco teórico do incesto
é afastado por uma reconstituição ideal de um par correlativo e anta·
gonista. O sacrifício do boi ou da cabra para conjurar uma relação anor·
mal entre os cônjuges é aliás extremamente difundido em toda a Arrica,
e encontraremos em outros lugares significativos eqUivalentes a ele.
Seria possível, é verdade, sermos acusados aqui de petição de prin·
cípio, pois parecemos postular a identidade fundamental da organização
dualista e de costumes na aparência muito diferentes, o que deveria ser,
ao contrário, o Objeto de nossa demonstração. Ora, nào há nada mais
perigoso, do ponto de vista de um sadio método de pesquisa do que
adotar, a respeito de uma instituição em exame, uma definição tão im-
precisa e elástica que se torna difícil em seguida não encontrá·la em to·
da parte. Mais que qualquer outro, O estudo da organização dualista
sofreu ·desse gênero de excesso.
A organização dualista acarreta com efeito um certo número de con·
seqüências em todos os lugares onde se realiza. A mais importante é
que os indivíduos se definem, uns com relação aos outros, essencial-
mente segundo pertençam ou não pertençam à mesma metade. Este tra·
ço exprime·se da mesma maneira, qualquer que seja o modo de trans·
- E. E. Evans-Pritchard, The Nuer, Oxford 1940. H. Labouret, Les Tribus du Ra·
meau Lobi. Travaux et Mémoires de l'Institut d'Ethnologie, voI. 15, Paris 1931. A.
r. Richards, Reciprocal Clan Relationships amang the Bemba of N. E. Rhodesia. Man,
vaI. 37, ~. 222. J. Haeckel, Clan·Reziprozitat und Clan-Antagonismus in Rhodesia
<Zentralafrlka) und deren Bedeutung fUr das problem des Zweiklassensystems, Anthropos,
voI. 33, 1938. - C. G. Seligman e B. Z. Seligman, Pagan Tribes of the Nilotic SUdan, Londres
1932, p. 207.
110