Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1

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somente a condição de "primas" cruzadas, mas também - entre outras


  • a condição de "tias" cruzadas e de "sobrinhas" cruzadas. Todas têm
    a mesma qualidade de mulheres exógamas. Que é então que determina o
    caráter de cônjuge privilegiado das primeiras?
    Suponhamos agora que à primeira dicotomia unilateral da organi·
    zação dualista se acrescenta uma segunda, igualmente unilateral, mas se-
    guindo a outra linhagem. Seja, por exemplo, um sistema de metades ma·
    trilineares A e B, e uma segunda divisão, desta vez patrilinear, entre
    dois grupos, X e Y. Cada indivíduo receberá de sua mãe uma condição
    A ou B e de seu pai uma condição X ou Y. Cada indivíduo, portanto,
    será definido por dois indices: AX, AY, BY ou BX. Se a regra do ca·
    samento é que os cônjuges possíveis diferem ao mesmo tempo quanto
    ao indice materno e quanto ao índice paterno, é fácil verificar que so·
    mente os primos cruzados satisfazem esta dupla exigência, ao passo que
    os tios ou as tias, os sobrinhos ou as sobrinhas cruzados diferem so·
    mente por um indice. Para uma demonstração detalhada, rogamos ao
    leitor recorrer ao capítulo XI. Vamos nos limitar aqui a alguns exemplos.
    A organização dualista dos AShanti, talvez também a dos Gã, dos
    Fanti e mesmo a dos negros do Surinan", repousaria sobre a super·
    posição de um fator patrilinear, ou ntoro, ou "espírito" J por um fator
    matrilinear chamado ora mogya, l·sangue", ora abusua, "clã", De fato, di-
    zem os indigenas, abusua bako mogya bako: "um clã, um sangue". É
    o ntoro do homem, misturado com o mogya da mulher, que produz o
    filho." A terminologia acentua a correlação entre este sistema e oca·
    samento dos primos cruzados nas equações:


asc: mulher do irmão da mãe = mãe do cônjuge;
oyere: filha do irmão da mãe = esposa;
akonta: filho do irmão da mãe = cunhado."

Os Toda da índia distribuem·se, de um lado, em mOd, grupos exo·
gâmicos patrilineares, e de outro lado em polioil, grupos exogâmicos ma·
trilineares. Graças a esta dicotomia, as duas grandes classes endógamas
que formam as principais unidades sociais desta tribo encontram·se sub·
divididas da seguinte maneira: Os Toda em cinco grupos (palioil)
exogâmicos, e os Touvil em seis. O casamento dos primos cruzados pa·
rece portanto resultar da proibição do casamento entre individuos cuja
relação de parentesco se estabelece em linha materna ou em linha paterna
exclusivamente. H Encontra-se uma organização do mesmo tipo entre os
Yakii da Nigéria, divididos em grupos patrilineares exogâmicos, os yepun,
e em grupos matrilineares menos estritamente exogâmicos, os yajima.
Os direitos e as obrigações estão distribuidos entre os dois grupos, sem


  1. 11:'1. J. Herskovits. The Social Organization of the Bush Negroes Df Suriname.
    Proceedings of the 23rd International Congress of Arnericanists, Nova Iorque 1928.

  2. M. J. Herskovits, The Ashanti Ntoro; a Re·examination. Journal of the Royal
    Anthropological Institute, voI. 67, 1937.

  3. M. Mead, A Twi Relationship. Journal 01 the Royal Anthropological Institute,
    voI. 67, 1937.

  4. M. B. Emeneau, Toda Marriage Regulations and Taboos. American Anthropo-
    logist, voI. 39, 1937, p. 104.


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