tares encontra-se nas possibilidades biológicas, que podem sempre fazer
aparecer soluções múltiplas, em forma de irmãos, irmãs ou primos, para
um problema dado O limite das estruturas complexas está na proibição
do incesto, que exclui, em nome da regra social, certas soluções que,
entretanto são biologicamente abertas Mesmo na estrutura elementar
mais rigorosa conserva-se certa liberdade de escolha, e mesmo na estru-
tura complexa mais vaga a escolha permanece sujeita a certas limitações_
Não é possível, portanto, estabelecer uma completa oposição entre
as estruturas elementares e as estruturas complexas. Igualmente é difícil
traçar a linha divisória que as separa. Entre os sistemas que indicam
o cõnjuge e aqueles que o deixam indeterminado, há formas híbridas
e equívocas, quer porque privilégios econõmicos permitem efetuar uma
escolha secundária dentro de uma categoria prescrita (casamento por
compra associado ao casamento por troca), quer porque haja várias so-
luções preferenciais (casamento com a filha do irmão da mãe e com a
filha do irmão da mulher; casamento com a filha do irmão da mãe e
com a mulher do irmão da mãe, etc.>. Alguns destes casos serão exa-
minados neste livro porque julgamos que podem esclarecer casos mais
simples que eles. Outros, ao contrário, que marcam a passagem para
as formas complexas, serão provisoriamente deixados de lado.
Propriamente falando, o presente trabalho constitui, pois, uma in-
trodução a uma teoria geral dos sistemas de parentesco. Isto é certo,
se considerarmos que, depOis deste estudo das estruturas elementares,
continua aberto o lugar para um outro, reservado às estruturas comple-
xas, e talvez mesmo para um terceiro, consagrado às atitudes familiares
que exprimem ou sobrepujam, mediante comportamentos estilizados, con-
flitos ou contradições inerentes à estrutura lógica, tal como se revela
no sistema das denominações. Se nos decidirmos, contudo, a publicar
este livro em sua forma atual foi essencialmente por duas razões. Acre-
ditamos, primeiramente, que, sem ser exaustivo, nosso "estudo é completo,
no sentido em que trata dos princípiOS. Mesmo se devêssemos consi-
derar o desenvolvimento de tal ou qual aspecto do problema a que
nosso estudo é consagrado, não teríamos que introduzir nenhuma noção
nova. Se o leitor desejar elucidar uma questão especial bastará que apli-
que ao caso considerado nossas definições e distinções, procedendo se-
gundo o mesmo método.
Em segundo lugar, não esperamos, mesmo nos limites que nos im~
pusemos, estar livres de inexatidões materiais e de erros de interpreta-
ção. As ciências sociais chegaram a um tal grau de interpenetração, e
cada uma delas tornou-se tão complexa pela enorme massa de fatos e
documentos sobre os quais repousa, que seu progresso só pode provir
de um trabalho coletivo. Fomos obrigados a abordar terrenos para o
estudo dos quais estávamos mal preparados, a aventurar hipóteses que
não pOdíamos imediatamente verificar e também a deixar provisoriamen-
te de lado, por falta de informação, problemas cuja solução teria sido
contudo essencial para a nossa finalidade. Se nosso trabalho encontrar
ressonância somente junto de poucas pessoas, entre elas quem, como etnó-
logo ou sociólogo, pSicólogo ou lingüista, arqueólogo ou historiador, par-
ticipa, no laboratório, no gabinete de trabalho ou no terreno, do mesmo
estudo do fenômeno humano, e se algumas das lacunas, de cuja exten-
são e gravidade somos nós os primeiros a ter consciência, pOdem ser
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