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preenchidas como consequencia dos co~entários daqueles especialistas e
em resposta a suas objeções. então, sem dúvida, teremos tido razões
para estabelecer um período de pausa em nossa pesquisa e propor seus
primeiros resultados antes de procurar extrair suas mais longínquas
implicações.
Atualmente. um estudo de sociologia comparada esbarra em duas
dificuldades principais. a escolha das fontes e a utílízação dos fatos. Nos
dois casos o problema deriva. sobretudo. da abundância dos materiais
e da imperiosa necessidade de estabelecer um limite. No que se refere
ao primeiro ponto, não quisemos esconder que, tendo sido escrito nos
Estados Unidos. pelo contato diário com nossos colegas norte·americanos.
'este livro estava exposto a ter de usar predominantemente fontes de lín·
gua inglesa. Se procurássemos ocultar esta orientação, incorreríamos na
culpa de ingratidão com relação ao país que nos ofereceu generoso aco·
lhimento e excepcionais possibílídades de trabalho; e em relação a nossos
colegas franceses. interessados sobretudo nos recentes progressos de sua
ciência no estrangeiro, teríamos malogrado na missão de informação que
nos tinham tacitamente confiado. Ao mesmo tempo. e sem nos negarmos
a apelar para as fontes antigas todas as vezes que nos eram absoluta·
mente necessárias, procuramos renovar a base tradicional dos problemas
do parentesco e do casamento. evitando limitar·nos a uma nova tritura·
ção de exemplos já fatigados pelas discussões anteriores de Frazer.
Briffault. Crawley e Westermarck. A bibliografia de nosso trabalho revela-
rá. de maneira não fortuita. uma elevada porcentagem de artigos e tra-
balhos,_ publicados durante os últimos trinta anos. Esperamos assim que
nos perdoem um empreendimento teórico, talvez em vão, devido ao aces-
so mais fácil. preparado por este livro. a fontes às vezes raras e sempre
dispersas.
O segundo ponto constituía um problema mais delicado. Ao empre-
gar seus materiais o estudioso da sociologia comparada está constante-
mente exposto a duas censuras, a saber. ou que, acumulando exemplos,
desencarna-os e os faz perder toda substância e significação. porque os
isola arbitrariamente da totalidade da qual cada um deles é um ele-
mento, ou que, ao contrário, para conservar o caráter concreto dos fa-
tos e manter vivo o elo que os une a todos os outros aspectos da cultura
da qual foram tomados. o sociólogo seja levado a só considerar um
pequeno número de fatos. sendo-lhe negado. por motivo desta base de-
masiado frágil. o direito de generalizar. Associa-se habitualmente o nome
de Westermarck ao primeiro defeito. e o nome de Durkheim ao segundo.
Mas. seguindo o caminho tão rigorosamente traçado por Mareei Mauss.
é possível. segundo nos parece. evitar esses dois perigos. Neste livro
concebemos os dois métodos não como procedimentos mutuamente ex-
clusivos. e sim correspondendo a dois momentos diferentes da demons-
tração. Nas primeiras etapas da sintese defrontamo-nos com verdades
tão gerais que a função da pesquisa consiste em suscitar a hipótese.
guiar a intuição e ilustrar os princípios mais do que verificar a de-
monstração. Enquanto os fenômenos considerados são ao mesmo tempo
tão Simples e tão universais que a experiência vivida basta para fun-
damentá-los com relação a cada observador. é sem dúvida legítimo -
uma vez que, não se exige ainda que exerçam nenhuma função demons-
trativa - acumular os exemplos, sem se preocupar demasiadamente com
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