neira como se fecham os ciclos dos casamentos. Mas vemos já que o
sistema de parentesco Murngin tem todas as aparências de um sistema
de quatro pares patrilineares no qual, para resolver um problema de
figuração, três dos pares tiveram de ser reproduzidos, cada um com dois
exemplares. Só o par de Ego permanece indiviso, e a razão disso é clara,
é porque Ego não pOde perceber·se asi mesmo e perceber sua própria
linhagem ao mesmo tempo como sujeito e como objeto.
[Foi fundando·se na frase "a maneira como se fecham os ciclos do
casamento" que Leach me acusou - e depois dele Berndt e Goody -
1') de confundir, como Lawrence e Murdock, as "local lines" e as "des-
cent lines". 2') de postular erroneamente a circularidade do sistema
Murngin].
No que se refere ao primeiro ponto, basta considerar a Figura 34
e seu comentário, para ver que longe de ter ignorado a diferença entre
"local lines" e "descent lines", fui o primeiro a formulá-la, embora em
termos diferentes, e a reduzir a 3 + 1 = 4 o número dos grupos "ver-
dadeiros" (em minha terminologia), resultado que Leach apenas repro-
duziu, imputando·me uma concepção diferente.
No entanto, Leach não percebeu que, para ser exata, a formulação
particular que adota deveria ser invertida. O número das "local lines"
é determinado, mas certamente elevado. São as "descent lines", não as
"local lines", que são em número de quatro, ou seja, 3 que cada indivi-
duo aplica sem equivoco a "local lines" concretas e 1 que tem a escolha
de aplicar a uma quarta, que pode estar ou à sua esquerda afastada
ou à sua direita afastada. Todas as outras "descent lines" são redupli-
cações terminológicas das precedentes, que Ego projeta, por assim dizer,
sobre "local lines" ainda mais indiretamente aliadas à sua, a fim de po-
der denominá-las.
Seria portanto falso dizer que o sistema Murngin admite 7 "descent
lines" e 4 "local lines". Na realidade, a sociedade Murngin, observada
em qualquer momento, compreende um número finito (mas elevado) de
"local lines", que nos é desconhecido. Para definir suas relações de pa-
rentesco cada Ego dispõe de 4 "descent lines", das quais 3 fixas e 1
móvel, que lhe servem para se situar com relação a 4 "local lines", a
saber, a sua, a de seus doadores de mulheres e a de seus recebedores
de mulheres, e mais uma, que pode ser, à sua vontade, ou a dos doa-
dores de seus doadores ou a dos recebedores de seus recebedores. Como
parece que os ciclos de troca põem em ação mais de 4 grupos locais,
Ego foi levado a forjar termos suplementares (mas derivados dos pre-
cedentes) para designar eventuais "local !ines", destinadas ora a seus doa·
dores de mulheres ou aOs doadores de seus doadores, ora aos seus
recebedores ou aos recebedores de seus recebedores. Finalmente, pode
sempre, caso os ciclos sejam ainda mais extensos, repetir ad libitum o
mesmo processo ou - quando são em menor número - abandonar
algumas denominações longinquas em proveito de outras mais próximas,
com a umca condição, entretanto, de que o ciclo seja efetivamente fe·
chado, isto é, que contenha um número par ~ 4 "local lines" (por motivo
da existência das metades patrilineares).
Elkin e Radcliffe-Brown raciocinaram sobre ~ 10 (ou nunca fecha-
dos), ao passo que Lawrence e Murdock elaboraram uma solução termi-
nológica particular para um ciclo = 8, mas, paradoxalmente, interpretando
233