Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1

o sistema do casamento torna-se então idêntico ao de um sistema
Aranda (Figura 36), Radcliffe-Brown concluiu: "Vê-se, assim, que cada
uma das quatro semimetades compreende dois grupos que são o exato
equivalente das sub secções das outras tribos".·


~


~: ~ ::,~
~Re = Qlj
Se = Pd
(Segundo W. L. Warner,
op, cit., p. 79)

Figura 36

Um problema análogo apresentou-se-nos a propósito do sistema
Murngin, mas foi no sentido de uma solução diferente que tivemos de
nos dirigir. Pareceu-nos que este sistema, com suas oito subsecções, de-
nominadas ou não-denominadas, devia ser interpretado como resultado de
um esforço para adaptar às fórmulas Aranda um sistema de quatro clas-
ses de tipo diferente. A presença do sistema Mara em uma região vi-
zinha acrescenta forte presunção de veracidade a esta hipótese. Ao mesmo
tempo levanta a questão de saber se o própria sistema Mara não deve
ser interpretado da mesma maneira, isto é, comO um sistema efetiva-
mente de quatro classes, que teria tomado de empréstimo uma nomen-
clatura de tipo Aranda. Um argumento em apoio desta interpretação
apresenta-se imediatamente. Se o sistema Mara fosse diferente de um
sistema Aranda somente pelo fato das subsecções não serem denomi-
nadas, as regras do casamento deveriam ser rigorosamente idênticas nos
dois casos, Ora, tal não acontece, Sharp estabeleceu a presença de uma
fórmula de casamento alternativa nos sistemas de tipo Mara, estudados
por ele na parte noroeste de Queenslal'ld: "As regras do casamento per-
tencem ao tipo Aranda normal, segundo o qual um homem e sua irmã
casam-se com o filho e a filha da filha do irmão da mãe da mãe. Po-
dem, contudo, casar-se com o filho e a filha do irmão da mãe". 'õ Nessas
condições, é possível perguntar se os dois sistemas não são estrutural-
mente diferentes.
Ora, existe em uma outra região do mundo um sistema análogo
ao sistema Mara, e neste caso independente de todo sistema Aranda.
É o sistema dos Munda do norte da índia.' O sistema utiliza dois gru-
pos patrilocais, cada qual dividido em duas classes matrimoniais. Se cha-
marmos P e R as duas divisões de um grupo, e O e S as duas divisões
do outro grupo, a regra do casamento estabelece-se da seguinte maneira:
se uma geração pratica casamentos do tipo P = Q ou R = S, a geração
seguinte deverá casar-se de acordo com as fórmulas P = S e R = Q.
Contudo, acrescenta-se que, enquanto a regra do casamento P = Q está
em vigor, R pode valer-se de uma aliança alternativa, seja com Q seja
oom S. e inversamente. Sharp notou um desenvolvimento análogo entre



  1. Loc. cito

  2. L. Sharp, SemÍ-moieties in North-Western Queensland. Oceania, voI. 6, 1935·1936,
    p. 158.

  3. CL capo XXVI.


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