Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1

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desarmônico. Dizemos que um regime é harmônico quando a regra de
residência é semelhante à regra de filiação, e chamamos desarmônico'" o
regime no qual essas regras se opõem. Um regime de filiação matrilinear
e residência matrilocal é harmônico, o mesmo se dando com um regime
de filiação patrilinear com residência patrilocal. Ao contrário, os regi-
mes nos quais um dos fatores segue a linha paterna enquanto o outro
segue a linha materna são desarmônicos. Há, por conseguinte, dois tipos
de regimes harmônicos: patrilinear e patrilocal, matrilinear e matrilocal;
e dois tipos de regimes desarmônicos, a saber. patrilinear e matrilocal,
matrilinear e patrilocal.
Vimos o que se passava no caso de um regime desarmônico, ou que
se torna tal, porque o sistema Kariera, com suas metades matrilinea-
res e seus dois grupos patrilocais, ip..clui-se nessa categoria. O recurso
à dicotomia matrilinear tem como resultado, conforme sabemos, a di-
visão em quatro secções, permitindo o casamento com as duas primas
cruzadas unilaterais e com a prima cruzada bilateral. Que acontece no
caso do regime harmônico?
Seja um sistema de residência patrilocal, compreendendo duas me-
tades patrilineares A e B, e dois grupos locais I e 2. A fórmula do ca·
samento e da filiação será a seguinte: isto é, o sistema funcionará como

Se um homem: casa-se com uma mulher: os filhos serão:

AI B2 AI
B2 AI B2
A2 BI A2
BI A2 BI

dois sistemas dualistas justapostos. Em vez de ter um teremos sim·
plesmente dois e nada será alterado no grau de integração do sistema
global. Se, em lugar de dois grupos locais, fizermos intervir quatro, a
mesma situação se reproduzirá, isto é, cada grupo se dividirá em dois
para reconstituir, como uma metade de um grupo vizinho, novo sistema
com duas metades. Teríamos, portanto, partido de quatro grupos locais,
cada qual dividido em duas metades exogâmicas, e encontraríamos qua-
tro grupos locais, cada um composto de duas metades exogâmicas. Que
significa isto? Que o recurso à residência, no caso dos regimes harmô-
nicos, é desprovido de fecundidade. Levando em conta somente a filíação
e a residência, os sistemas harmônicos são incapazes de superar o es-
tádio da organização em metades.
Estará então o regime harmônico condenado a permanecer neste está-
dio primitivo de integração do grupo, representado pela organização dua·
lista? Em tal regime não se chega a nada, é verdade, trocando esposas en·
tre pessoas de diferentes procedências, em vez de trocá-las entre pessoas
da mesma proveniência. Mas resta ainda outra possibilidade, a de tro-
car não os grupos entre os quais se realiza uma mesma forma de troca,
mas a relação segundo a qual faz·se a troca entre os mesmos grupos.
Isto é, passar de um sistema duplo de troca direta, segundo a fórmula
P = Q, R = S, a um sistema simples de troca indireta, segundo a
fórmula P = Q = R = S (= P). Isto é, finalmente, passar de um siso

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