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justapondo vários diagramas, cada um dos quais só ilustra um aspecto ou
um momento dos sistemas, não sendo a totalidade expressa no conjunto.
Vejamos agora como um observador tão perspicaz quanto Deacon
procedeu para descrever um sistema Crow da Melanésia. Entre os Se-
niang, diz ele, "a escolha de um cônjuge é determinada por numerosas
proibições, mas não por prescrições", e acrescenta: "ao menos em teo-
ria, o casamento com uma mulher de determinado clã é impossível se,
tanto quanto alguém se lembre, já houve um matrimônio do mesmo ti-
po durante as geraçôes anteriores" (Malekula, A Vanishing People of the
New Hebrides, Londres 1934, p. 134). Basta inverter estas duas fórmulas
para obter uma definição inteiramente satisfatória do casamento assimé-
trico. Neste caso, com efeito, uma única prescrição basta para deter-
minar a escolha do cônjuge, a prescrição feita ao indivíduo masculino de
casar-se com uma filha do irmão da mãe ou com uma mulher prove-
niente de um grupo "doador". Ademais, o grupo "doador" é reconhecido
pelo fato de imemorialmente alianças análogas já terem sido contral-
das com ele.
Não é lícito concluir de quanto foi dito que todos os sistemas cha-
mados Crow-Omaha se abstêm necessariamente de promulgar prescrições
ou de enunciar preferências matrimoniais, nem que, no limite dos clãs
autorizados, a liberdade de escolha seja total. Os Cherokee matrilineares
proíbem somente dois clãs, os da mãe e do pai, e preconizam o casa-
mento com uma "avó", isto é, com uma filha do clã do pai da mãe ou
do clã do pai do pai. Entre os Hopi o casamento era teoricamente
proibido com toda mulher proveniente de uma fratria que se relacio-
nasse com o clã da mãe, do pai ou do pai da mãe. Se estas sociedades
compreendessem somente quatro clãs ou fratrias, ou seja, uma para ca-
da tipo de avós, seu sistema de casamento se aproximaria muito do
sistema dos Kariera e dos Aranda da Austrália, onde, para encontrar um
cônjuge conveniente, um indivíduo rejeita duas ou três linhagens e se
dirige às restantes, que podem ser uma ou duas. Mas os sistemas Crow-
Omaha contêm sempre mais de quatro linhas. Havia sete clãs entre os
Cherokee, dez entre os Omaha, treze entre os Crow e sem dúvida mais
outrora, doze fratrias e cerca de cinqüenta clãs entre os Hopi, trinta a
quarenta clãs entre os Seniang. Sendo o casamento llcito, em regra ge-
ral, com todos os clãs que não são Objeto de proibição formal, a estru-
tura de tipo Aranda, para a qual tenderia todo sistema Crow-Omaha
se o número dos clãs se aproximasse de quatro, ficará como alagada em
uma onda de acontecimentos aleatórios. Nunca se cristalizará em forma
estável. De modo sempre fugitivo e indistinto, .unicamente seu espectro
transparecerá aqui e ali em um meio fluido e indiferenciado.
Na maioria das vezes, aliás, o fenõmeno nem mesmo se produzirá,
se é verdade que a maneira mais cômoda de definir um sistema Crow-
Omaha consiste em dizer que cada vez que se escolhe uma linha para
obter dela um cõnjuge, todos os seus membros ficam automaticamente
excluídos do número dos cõnjuges disponiveis para a linha de referência,
e isso durante várias gerações. Como a mesma operação se repete por
ocasião de cada casamento, o sistema permanece em um estado de tur-
bulência que o opõe ao modelo ideal de um sistema assimétrico, onde
o mecanismo das trocas é regularmente ordenado. Este assemelha-se mais
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