Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1

primas cruzadas entre si, mas no segundo grau. "O afastamento do grau
de parentesco além de certo limite parece ser, como na Austrália, um
obstáculo ao casamento"."


'X'
C .. D

Figura 56

O problema fundamental é pois o da proibição dos tuyma axmalk.
Sternberg indica que começou por acreditar que esta proibição se expli-
cava pela necessidade de conservar, num terceiro clã, uma reserva de
mulheres para as quais se poderia apelar em caso da extinção do segundo
clã. Mas renunciou a esta interpretação funcional em favor de uma hi-
pótese fundada sobre a suposta evolução do sistema Gilyak." Junta-
mente com Kohler e Crawley, vê no casamento dos primos cruzados uma
conseqüência da organização dualista, que derivaria de um antigo regime
de promiscuidade, com o casamento entre irmão e irmã, subsistindo
mesmo depois da proibição das relações sexuais entre pais e filhos. "A
fórmula do casamento torna-se, então, a de uma união entre filhos de
irmão e irmã, que são eles próprios marido e mulher, e pais do jovem
casal"." A organização dualista é portanto uma simples sObrevivência do
casamento entre irmão e irmã descendentes de irmão e irmã. Mas é
preciso ainda passar do casamento entre primos cruzados bilaterais ao
casamento unilateral dos Gilyak. Para Sternberg, trata-se somente da
solução original de um problema que se apresentou aos australianos.
Estes quiseram, para restringir os graus permitidos, salvar o princípio
da troca. Tiveram então de abandonar o primeiro grau. Os Gilyak qui-
seram salvar o primeiro grau, mas tiveram de renunciar à troca. H Daí
o abandono da organização dualista.
Em suma, para Sternberg, o sistema Gilyak, assim como o sistema
Aranda, derivam da organização dualista e é pela existência inicial de
uma organização dualista que se tem de explicar o recurso a quatro clãs,
quando três seriam teoricamente suficientes para que um sistema de
casamento com a prima matrilateral pudesse funcionar."
Encontramos nesta construção uma completa herança evolucionista.
Mas, em Sternberg, o observador vale mais que o teórico e em nenhum
lugar se deduz da observação que o ciclo do casamento se reduza a
quatro clãs. Se fosse assim, o problema dos tuyma axmalk estaria re-


se dirá da observação de Jochelson, segundo o qual a aliança matrimonial representa
"um verdadeiro esboço do grupo social" (Jochelson, The Koryak, op. cit., p. 761).


  1. Sternberg, op. cit., p. 138.

  2. Ibid., p. 138.

  3. Idem, p. 158.

  4. Idem, p. 164.

  5. Idem, p. 165-175_


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