Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1

patrilinear, a seqüência d2-a2-dl-al, na qual evidentemente o par a/d
representa uma metade patrilinear e o ciclo 1/2 duas subsecções matri-
lineares Ora, o sistema de oito classes reconstituído por Granet baseado
na ordem tehao mou não nos oferece de modo algum uma seqüência deste
tipo
Se consultarmos a figura 57, veremos que a seqüência patrilinear
é al-bl-el-dl, ou a2-b2-e2-d2, e que estas duas seqüências são as únicas
compativeis com o sistema Em termos da ordem tchao mou, isto equi-
vale a dizer que quatro membros consecutivos de uma mesma linhagem
patrilinear devem ocupar ou quatro andares de uma mesma coluna ou
quatro posições de uma mesma fileira, mas a intervenção simultânea de
duas colunas e de duas fileiras é inexplicáveL Se a ordem tehao mau
tem qualquer relação com o sistema de parentesco (o que permanece
duvidoso), isto deve significar que o pai e o filho são Idênticos no que se
refere à fileira e opostos no que diz respeito à coluna, ao passo que avô
e neto são idênticos pela coluna e opostos pela fileira. No sistema de
parentesco proposto por Granet vemos ao contrário que trisavô, bisavô,
avô, pai, são todos idênticos entre si por um ponto de vista (a metade
patrilinear), mas todos diferentes entre si por outro ponto de vista (a
secção matrilinear l. A hipótese por conseguinte não é apenas aventurosa,
mas não explica os fatos que se propõe explicar.
Existe um outro sistema de parentesco, cujos caracteres a ordem
tehao mau pudesse traduzir melhor? É curioso notar que existe. É o
sistema Murngin, funcionando ora segundo a fórmula normal ora se-
gundo a fórmula optatlva
Num e noutro caso encontramos com efeito
a seqüência: d2-a2-dl-al. Comparemos, portanto, o sistema Granet com o
sistema Mú~gin (Figura 66). No esquema da esquerda (Murngin) o si-


Murngin (normal) Granet

~


:: ::IV
t'c,=o,
C2=02

Figura 66

nal = une a subsecção do marido à subsecção da mulher, e o sinal -> a
subsecção da mãe à subsecção dos filhos. No esquema da direita (Granetl,
o sinal interior -> une a subsecção do marido à subsecção da mulher,
e o sinal exterior -> une a subsecção do pai à subsecção dos filhos.
Vimos, com efeito, que o sistema Murngin resulta da superposição de
uma dicotomia matrilinear a uma dicotomia patrilinear, enquanto o sis-
tema Granet só é inteligível na hipótese inversa, na qual a dicotomia
primitiva é matrilinear e a secundária, patrilinear.
Consideremos agora a seqüência patrilinear correspondente à ordem
tehou mau, isto é, d2-a2-dl-al. Esta seqüência encontra-se realmente no
sistema Murngin, mas somente quando o sistema funciona de acordo com
uma das duas fórmulas, normal ou optativa, de que dispõe. Ora, lem-
bramo-nos que neste caso o casamento é possível com a prima cruzada

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