matrilinear quanto ao nome ou quanto ao grupo local, mas que era tal
de maneira absoluta (regime harmônico). Além disso, é preciso admitir
que permaneceu assim até o aparecimento da troca generalizada, a qual
de outro modo seria inexplicável. Tanto isto é verdade que, quando se
estabelece em fórmulas o sistema de oito classes de Granet, percebemos
que repousa no desenvolvimento do principio matrilinear (quatro grupos
matrilocais em lugar de dois), permanecendo inalterados os elementos pa.
trilineares (metades) (cf. figs. 58 e 59), Desde que Granet explica o
aparecimento do sistema de oito classes como resultado da predominân.
cia progressiva do princípio agnático I encontramos aí uma contradição
que não é dos menores obstáculos à sua teoria. Será preciso então admi.
tir que um regime harmônico, matrilinear e matrilocal, converteu·se brus·
camente em outro regime harmônico, patrilinear e patrilocal? Nada permite
fazer esta hipótese, e neste caso o resultado seria efetivamente um sis·
tema de troca generalizada, mas com quatro classes e não com oito.
De qualquer maneira que a examinemos, a reconstrução de Granet não
dá oportunidade a uma saida.
Um único caminho permanece aberto, para quem quiser tentar in·
terpretar estes dados contraditórios. É aquele pelo qual Granet não parece
ter·se deixado tentar, na introdução às Danses et Légendes, a não ser
para repudiá·lo imediatamente. Seria admitir que os fatos chineses ofe·
recem vestígios e sobrevivências de dois sistemas, que devem ter coexis-
tido, ao menos durante certo período, como testemunha ou de culturas
e de regiões distintas ou de uma diferenciação social que, levada a este
ponto, far~ crer que os nobres e os camponeses descenderiam de cama-
das de população heterogêneas." Com efeito, conforme Granet aliás sem·
pre percebeu, os dois sistemas se opõem nos costumes de duas classes.
São as aldeias que trocam as mulheres, enquanto o casamento oblíquo
nunca constituiu senão um privilégio feudal. Será absolutamente indis·
pensável transformar esta coexistência social em uma seqüência histórica?
Um fato, segundo nosso modo de ver capital, deve ser em todo
caso acentuado. O casamento oblíquo do senhor feudal é um uso muito
arcaico, uma das indicações mais antigas que possuimos sobre o casa·
menta chinês, e certamente a mais exata. Foi, com efeito, durante o
período dos Chou que o senhor feudal esposou, ao mesmo tempo que
sua mulher principal, oito mulheres secundárias. "As yin eram recrutadas
da seguinte maneira: a noiva e as oito yin distribuíam·se em três grupos
de três mulheres. O primeiro grupo abrangia a noiva, uma de suas irmãs
mais moças ou meio irmãs mais moças, ti, e uma das filhas de seu irmão
mais velho, chih. Estas três mulheres constituíam o grupo principal. Duas
outras senhorias, que possuíam o mesmo nome clânico da noiva. forne-
ciam cada uma uma yin principal, uma ti e uma chih. Tinha·se, portanto,
três grupos, ao todo nove mulheres. A contribuição das outras senhorias
- li: sobretudo por esta razão que um outro estudo do sistema chinês, o de
C. C. Wu (The Chinese Family: Organization, Names and Kinship Terms, American
Anthropologtst, voI. 29, 1927) não é utilizado aqui. O autor parte da noção, mani-
festamente errônea, de um sistema uniforme para toda a China. Esforça·se, então.
em interpretar os sistemas falados como desvios em relação à norma do sistema
escrito, ponto de vista justamente criticado por Fei (Monumenta Sertca, voI. 2, n. 1.
Peiping 1936).
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