recusar e enunciam pretensões extravagantes. Mas quando são eles que
têm uma moça para casar J tomam a iniciativa e apelam para os eventuais
maridos suspendendo do lado de fora vestuários femininos. '" Entre os
Gilyak o casamento ortodoxo (fundado na troca generalizada) é um ca·
sarnento de direito, ao qual se opõe o casamento negociado fundado na
compra. 31
Um antigo sistema de troca generalizada, sem dúvida já desmorali-
zado, porque sua verdadeira natureza não é mais compreendida, oferece,
pois, o terreno mais satisfatório para explicar a gênese de uma teoria do
casamento por dom, tal como a que se encontra em Manu. Assinalamos
em outro lugar a semelhança formal de vários sistemas australianos com
alguns sistemas do continente asiático." Esta semelhança encontra fam.
bém aqui seu campo de aplicação. "Um homem espera normalmente
casar·se com a filha do irmão caçula de sua mãe, seu kala... Um v~rda
deiro kala gosta de dar a filha ao filho de sua irmã, e pode obrigar'C"sua
mulher a prometer o casamento de sua filha com esse homem. Mlu{exa-
tamente um homem tem direito a esperar este compromisso, mas não
pode reivindicar a moça". 33 O mesmo autor acrescenta que, quando uma
mulher se compromete a casar sua filha nessas condições. "não espera
nenhuma contraprestação. Trata-se de um donativo ... Se a mulhet ·tem
uma filha em idade de razão, deve dá·la"." Finalmente, a seIÜ\Órita
McConnel chama o casamento fundado na troca direta das irmãs uma
"troca por arranjo", em oposição ao casamento ortodoxo (com a filha do
irmão da $1ãe) que chama "troca·dom". Estamos, pois, em presença de
um caráter. universal da troca generalizada.
Estas considerações têm capital interesse para compreender a evo-
lução da troca generalizada, de leste a oeste do mundo euro-asiático,
e as relações que unem o casamentõ preferencial com a filha do irmão
da mãe com o casamento chamado "por compra". É significativo que as
outras quatro formas de casamento conhecidas na índia, de aparéci-
mento posterior às quatro anteriores (ou de origem diferente), sejam,
uma. o casamento por troca (asura), e as três outras casamentos resul~
tantes de um fato consumado, inclinação mútua (gandharva), captura
(rakshasa) e violação durante o sono ou a perda de consciência (paisa-
cha). H. Não é aqui o lugar adequado para desenvolver as sugestões que
encontrarão oportunidade em outro trabalho·. De momento, só assinala-
remos a curiosa analogia entre a teoria indiana e a teoria chinesa, que
confirma, uma vez mais, que os dois terrenos, do ponto de vista dos sis~
temas matrimoniais, são estreitamente aparentadas e que uma estrutura
arcaica comum deve ter existido para explicar tais analogias.
Um paralelismo do mesmo tipo aparece com o problema da exogamia
das sapinda. A exogamia das castas, forma mais antiga e atualmente
abolida da exogamia indiana, opõe·se a das sapinda, forma mais recente.
O grupo sapinda é um grupo bilateral, compreendendo ao mesmo
tempo os parentes em linha paterna e os da linha materna. Inclui um
número igual de gerações numa e noutra linha, entre as quais o casa-
mento é proibido. Segundo Manu, a regra da exogamia estender-se·ia
- Cf. capo XVI. 31. Cf. capo XVIII.
- U. McConnel, Social Organization 01 the Tribes
- Grifado no texto (p. 449·450).
445
- Cf. capo XIII.
op. cU., p. 448.
(' "i , I.