Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1

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até o sétimo grau. "A relação de sapinda desaparece com a sétima pes-
soa". ,," Há, entretanto, uma assimetria entre as duas linhagens. "AreIa-
ção de sapinda cessa depois do quinto antepassado em linha materna,
e depois do sétimo em linha paterna".:!õ Parece que a exogamia de sa·
pinda sÓ começou a se desenvolver sistematicamente depois do século
VIII de nossa era." Calcula-se que no século XVII não havia menos de
duas mil cento e vinte e uma moças proibidas pela exogamia de sapinda,
admitindo-se que o pretendente seja casado pela primeira vez, que cada
família tenha apenas um filho e uma filha, desprezando os filhos do
primeiro matrimônio ou os adotados. '" No fim do século XVIII o autor
do Dharma-Sindhu, Kasinatha, introduziu a noção de "casamento desi·
gual", ou oblíquo, que condena, por exemplo, o casamento com a filha
da irmã da mulher ou com a irmã da mulher do irmão do pai, que não
são sapinda nem uma nem outra. "Mas, do ponto de vista das gerações,
a primeira é como uma filha, a segunda como a mulher do tio". ". Há,
entretanto, textos que permitem os casamentos oblíquos, dos quais algu-
mas formas são efetivamente praticadas no sudeste da fndia (com a filha
da irmã). Vê-se, portanto, esboçar-se, com mais de dez séculos de atraso,
uma evolução análoga à que devia conduzir à proibição do casamento
oblíquo na China dos T'ang."
Contudo, não é para este ponto particular que desejamos chamar a
atenção, mas para os caracteres do grupo sapinda propriamente dito.
Estes caracteres são quatro: o grupo sapinda é um grupo cultuai; reco-
nhece o parentesco bilateral; sua estrutura apresenta dois aspectos crí-
ticos, correspondentes respectivamente à quarta e à sétima geração; fi-
nalmente, .-mantém relações indiscutíveis, embora obscuras, com o sistema
de parentesco e de casamento. Por estas quatro razões, é impossível
não ficarmos impressionados pela analogia dos problemas levantados pelo
grupo sapinda na fndia e pelo sistema do luto e da ordem tehao mau na
China.
A palavra pinda significa "bolinha de arroz oferecida ao morto".
Porque o sacrifício pinda é oferecido, em primeiro lugar, ao pai, ao avô
e ao bisavô. Os três ascendentes anteriores ao bisavô s6 têm direito ao
lepa do pinda, isto é, aos grãos de arroz que se destacam quando se
lavam as mãos. O limite da exogamia na sétima geração seria portanto a
transposição, para o plano do casamento, das regras do sacrifício. A pri-
meira geração oferece o arroz, as três seguintes recebem-no e as três
últimas ganham o lepa, ou seja, no total sete gerações." Teríamos assim
dois ciclos de antepassados, como no templo feudal chínês, os que têm
direito a uma homenagem plena, pinda, ou tabuinhas individuais, e os que
pOdem somente pretender um culto reduzido, lepa, ou altar e plataforma
construídos fora do templo propriamente dito." Colocando-se de lado
o fundador da linhagem que se acha sempre ai, estão presentes quatro
gerações no templo feudal, e mais duas no exterior, o que dá, junta-
mente com o oficiante, um conjunto de sete gerações.
Tal como a nomenclatura chinesa, na qual devemos ver um reflexo
dos graus do luto, o grupo sapinda aparece pois, primeiramente, como um


  1. G. Banerjee, op. cit., p. 82. 36. Manu, III, 5 e V. 60.
    37. Banerjee. op. cit., p. 58.
    38. S. V. Karandikar, Hindu Exogamy, Bombay 1929, p. 194-195.
    39. Ibid., .p. 352. 40. Kasinatha. III, p. 130; citado por Karandikar. p_ 212.

  2. Cf. capo XXI. 42. Karandikar, p_ 180. Hutton, Caste in lndia, p. 53, n. 2.

  3. Cf. capo XX.
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