Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1

e clãs (sendo as próprias castas, sem dúvida, antigos clãs) coexistiram
comO grupos exogâmicos regidos pela troca generalizada, mas com um
exclusivismo nascente, por parte das castas, que podia conservar a fór-
mula - essencialmente aristocrática - da troca generalizada e que con-
denava os clãs estagnados a evoluírem por sua própria conta para a troca
restrita. São conhecidos, pelo menos, os esboços de tal evolução. "No
norte de Mambhum, as secções Rampai e Domkatai são mantidas em
tão pequena consideração que os membros das outras secções se recusam
a lhes dar suas filhas em casamento, embora não tenham objeção em
receber delas suas mulheres. Por conseguinte, nessa região, os Babhan
das secções acima mencionadas são obrigados a trocar as mulheres entre
si, apesar de suas filhas poderem encontrar maridos em todas as secções
fora da sua própria".'"
Assim, os casamentos entre as castas conduzem à constituição de
novas castas e ao desenvolvimento do modelo inicial. Este é menos "racial"
do que "cultural". ~I Porque - conforme procuramos mostrar a propósito
da sociedade Katchin, cujos cinco grandes grupos fundamentais podem
ser considerados castas ainda exógamas - a troca generalizada pode
tanto facilitar a integração de grupos de origens étnicas múltiplas quanto
levar ao desenvolvimento de diferenças no interior de uma sociedade etni-
camente homogênea. De algumas observações de Risley deduz·se que haja
nas castas mais do que o resíduo histórico, e alguma coisa diferente, e
que a casta, em certo sentido, constitui uma unidade funcionaL Ainda
atualmente cEfrtas tribos Dravidiana incompletamente "bramanizadas" pra-
ticam o casamento intertribal. Mas os filhos dessas uniões não se tornam
membros nem', do grupo paterno nem do grupo materno, mas formam
uma nova unidade endogâmica, cujo nome indica freqüentemente o tipo
exato de cruzamento do qual essa unidade é a expressão. Os Munda
possuem nada menos de nove grupos deste tipo. Os Mahili têm cinco,
considerando-se como descendência de um Munda e de uma Santal. '; 2
Estas subdivisões tendem a se constituir em grupos autônomos e a
disfarçar sua origem sob um nome profissional ou territorial.
Sendo hipergâmicas, as castas tendem portanto a se reproduzir por
um processo de diversificação. Os clãs multiplicam-se, ao contrário, por
cissiparidade. A este respeito, pouca dúvida existe de que o gotra esteja
para o clã assim como o thino está para o khelu, ou a putsa para o thino,
entre os Naga, ou o mokun para o gargan entre os Mandchu. Os mui
dos Goala de Bihar são às vezes subdivididos em secções locais. Neste
caso, a exogamia passa do mui para a subsecção (purukh), "o grupo mais
cômodo e o mais restrito ocupa o lugar do mais vasto". ';:0 Senart, também,
refere que a subdivisão dos gatra faz-se em função das exigências exo-
"gâmicas."' Adam descreve as tribos do Nepal ainda divididas em clãs
(thar), algumas das quais pelo menos perderam o caráter exogâmico em
favor dos gotra que as compõem. Muitas vezes não é possível distinguir
os gatra, que na verdade são linhagens, dos clãs. Novos gotra aparecem
constantemente. "'. Teria havido outrora um mín~mo de áfastamento exi-



  1. Risley, op. cit., voI. I, p. 31.

  2. J. C. Nesfield, Briel View 01 the Caste System 01 the Northwestern Provinces
    and Oudh. Allahabad, 1885.

  3. Risley, voI. I, p. 37. 63. Rlsley, vol. 1, p. 285. 64. E. Senart, op. Clt., p. 35.

  4. Adam, op. cit., p. 537. No mesmo sentido, Hutton, Caste m India, p. 45,


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