Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1

I
M


também o casamento bilateral. Em Bengala, o casamento matrilateral é
preferido pelos Kaure e pelos Karan, aos quais deve acrescentar·se os
Chero, os Iraqi e os Kunjra das provincias do noroeste. Os dois últimos
grupos prolbem formalmente o casamento com a filha da irmã do pai.
Este último tipo, diz Rivers, é "menos freqüente", só existindo raramente
em forma preferencial, o que o diferencia nitidamente do casamento bi·
lateral, assinalado nos treze grupos de Madra, das Provinclas Centrais e
do Noroeste, de Bombaim e de Bengala.
Hodson levantou um quadro dos grupos que permitem o casamento
bilateral e daqueles que só autorizam o casamento com a filha do irmão
da mãe. A primeira categoria abrange cinqüenta nomes, a segunda sessenta
e três. Mas só foram examinados Bombaim e as Provincias Centrais. Para
apreciar plenamente a predominãncia do casamento matrilateral é preciso
considerar que no sul da lndia, "terra clássica do casamento dos primos
cruzados", grandes grupos, como os Kuruba e 05 Komati, prescrevem
esta forma de casamento.' Mesmo no norte da lndia o casamento matri·
lateral encontra·se entre os Chero, Baiga, Gidhiya, Karan, Kaure, Birhore
ti Bhotla. aliás com detaibes que aproximam estes últimos sistemas dos
encontrados no Tibete, no Assam e na Birmãnla.
O qUadro mais recente de Karandikar' dá quarenta e dois grupos
do sul da lndia e das Provincias Centrais que praticam o casamento entre
primos cruzados. Todos afirmam a preferência matrilateral, com exceção
de dez (sete bilaterais, três patrilateraisl. Não há, portanto, dúvida alguma
que o casamento com a fiiba do irmão da mãe seja em larga maioria o
mais freqüente.
Esta preponderãncla é já suficiente para persuadir que o casamento
dos primos' cruzados na lndia não pode ser subproduto da organização
dualista, ao contrário do que Rlvers, pelo menos, foi levado a admitir.'
Koppers retomou recentemente este aspecto da questão e contribuiu muito
para mostrar, depois de Niggemeyer,' o caráter pseudomórfico das di·
visões indianas em metades. ' Nlggemeyer sugeriu que em todos os lugares
onde se encontrasse na lndia a divisão do grupo em "Grande" e "Peque-
no". "Superior" e "Inferior", etc., achamo-nos em presença de uma distin-
ção fundada na assimilação, mais ou menos completa, de dois grupos ao
hinduismo. Estas pseudometades, com efeito, são habitualmente endóga·
mas. Sem dúvida existem pelo menos três grupos dotados de metades
exógamas, os Korava, os Bili Magga de Misore e os Janappan de Madra.
A organização dos Janappan e dos Bili Magga não é perfeitamente clara,'
mas a dos Korava merece ser descrita. Os Korava dlvidem·se em três
secções, das quais as duas primeiras acredita·se que sejam compostas
de Korava puros e a terceira sendo formada de indlgenas casados fora da
casta e de sua descendência. Estas três secções distribuem·se em duas me-
tades exogâmicas, respectivamente chamadas pothu e pentl, isto é, "mas·
culino" e "feminino". A primeira das três secções é pothu, a segunda e a
terceira são pentl. Ora, acrescenta Thurston, "os pothus são considerados


  1. T. C. Hodson, Notes on the Marriage 01 Cousins in India, loe. cit., p. 168-171.
    4. Karandikar. loe. cito

  2. W. H. Rivers, OPA cit., p. 623.

  3. Totemismus in Vorderindien, AnthTopos, XXVII, 1933.

  4. W. Koppers, India and the Dual Organization. Acta Tropica, vaI. I, BlUe, 1944.
    8. E. Thurston, Castes and Tribes .. 01 op. cit., vaI. I, p. 240 e vaI. 2, p. 448.


469

Free download pdf