Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1

/;


como descendentes de homens à procura de esposas, e os pentis como
descendentes de homens à procura de maridos para suas filhas"." Esta
assimetria desmente qualquer interpretação possível do sistema como
organização dualista. Os pothus e os pentis, "genros" e "sogros", repro-
duzem a divisão característica dos sistemas de troca generalizada.
Interpretamos da mesma maneira o pseudodualismo dos Gonde de
Bastar. '" Nestas condições, é significativo que os Bhiiiyã de Orissa, que
praticam a exogamia de aldeia, dividam-se em kutumb, ou aldeias cujos
membros são cônjuges proibidos entre si, e bandhu, aldeias nas quais é
possível contrair matrimônio," porque a organização social dos Bhüyã é
harmônica, patrilinear e patrilocal, e bandhu designa os parentes mater·
nos," de onde urna dupla razão para concluir por um sistema de troca
generalizada.
O dualismo aparente dos Munda não é ilusório. Cada aldeia Munda
divide·se em dois grupos ou khut, chamados respectivamente paharkhut
e mundakhut. Um dá o chefe espiritual, o segundo o chefe temporal. Um
é considerado "mais velho" e o outro "mais moço". Um é superior, o
outro, inferior. Os dois khut de uma aldeia pertencem ao mesmo clã
ou kili, têm o mesmo totem, e não podem casar-se entre si. O casa-
mento só pode fazer-se entre khuts pertencentes a aldeias e clãs dife-
rentes, de acordo com as seguintes regras: se um casamento foi rea-
lizado entre dois khuts correspondentes de duas aldeias diferentes, outros
casamentos do mesmo tipo são autorizados nos limites da mesma geração,
mas daí resulta a proibição para as gerações seguintes, e isso, enquanto
os primeiros casais estão vivos, e mesmo enquanto os dois khuts conser-
vam relações sociais derivadas do intercasamento. Inversamente, se um
casamento :ocorreu entre paharkhut de uma aldeia e mundakhut de outra,
este tipo de casamento fica proibido na geração seguinte, ao passo que o
casamento entre dois paharkhut ou entre dois mundakhut torna·se permi-
tido. '" Estas singulares regras podem exprimir-se pela fórmula seguinte,
na qual M designa o casamento, 1, 2, 3 nas gerações sucessivas e p e m
os dois tipos de khut, respectivamente:

Ma (p = m) t [M (p = p)]



  • (m = m)


t[ Mdp = m)]


Poderíamos ser tentados a interpretar o sistelua como um sistema
Aranda. Seria teoricamente possível (por casamento com a filha do filho,
ou da filha, do irmão da mãe da mãe, ou da irmã do pai do pai) se
não soubéssemos que, durante a fase do casamento "entre dois mundakhut,
o paharkhut de uma aldeia pode contrair matrimônío com um ou outro
khut de outra aldeia, e reciprocamente, o que exclui o acréscimo de uma


  1. Thurston, vol. 3, p. 450.

  2. Cf. capo XXIV.
    11. Koppers, op. cito Sarat Chandra Roy, The Hill Bhúiyãs Df Orissa. Man in
    India, 1935.

  3. Cf. capo XXV.

  4. Koppers, op. cit., p. 81·83; Encyclopaedia Mundarica, vaI. VIII, p. 2333-2380.


470

Free download pdf