Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1

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Trata·se da relação, particularmente estreita, encontrada na índia en·
tre o sobrinho e o irmão da mãe, sobretudo por ocasião do casamento
do primeiro. A propósito dos Kallan de lingua Tamil, e de alguns Telugu,
Frazer diz: "Faltando uma prima do tipo exigido, um homem deve casar·se
com sua tia ou sua sobrinha, ou alguma outra parente próxima". ,. Em
certos casos mesmo, o casamento com a filha da irmã é substituído, ou
preferido, ao casamento com a prima cruzada. Em numerosos grupos
que praticam o casamento com a prima cruzada, por exemplo os Valiam·
ba, os Konga Vellala, etc., no caso em que o jovem marido não seja
capaz, por motivo da idade, de dar filhos à sua mulher, seu irmão, seu
pai ou seu tio substituem·se a ele nesta tarefa. Entre os Korava, Koracha
ou Yerukala do sul da índia, o irmão da mãe tem o hábito de reivindicar
a filha de sua irmã para seu filho. "O valor da esposa é fixado em 20
pagodes, e o direito do tio matemo às duas primeiras filhas de sua irmã
é fixado em 8 pagodes que devem ser deduzidos dos 20, da seguinte ma·
neira: se exerce seu direito preferencial e faz casar suas sobrinhas com
seus própriOS filhos paga para cada uma somente 12 pagodes. Da mesma
maneira, se, não tendo filhos ou por qualquer outra razão, renuncia ao
seu direito, recebe 8 pagodes dos 20 pagos aos parentes da filha, por
qualquer outro pretendente que vem casar·se com elas"." Contudo, entre
os mesmos Korava, o tio não é obrigado a dar suas sobrinhas em casa-
mento a seus filhos. Pode ele próprio casar·se com elas. "Nessa tribo,
como em muitas outras do sul da índia, um homem tem o direito de
casar-se com' sua sobrinha, mas sempre com a condição de que seja a
filha de sua irmã mais velha. Quanto à filha de sua irmã mais moça, não
pode tomá-la por mulher, a menos que seja viúvo". '" Esta preferência
pela sObririh'a., passando mesmo às vezes à frente da prima cruzada, é
especialmente marcada entre os Dravidiano de língua Telugu. Encontramo·
la principalmente nas castas de língua Telugu ou Canari de Misore, tendo
como conseqüênCia que as sobrinhas casadas com seu tio passam, com
relação aos filhos desse tio, da posição das primas cruzadas à de irmãs
da mãe, tornando·se assim cônjuges proibidos. Os Sanyasi, casta de men·
digos ambulantes de língua Telugu, só permitem o casamento com a prima
cruzada na falta de possível casamento com a sobrinha." Os Holeya e
os Madiga, de Misore, que são dois grupos muito primitivos, proíbem
formalmente o casamento com os primos paralelos, identificados com os
irmãos e as irmãs. A mesma assimilação encontra-se entre os Golla, casta
iletrada de Misore, que tratam o casamento entre primos paralelos como
uma forma de incesto, entre os Devanga, casta e tecelões de Misore,
entre as castas do grupo lingüístico Kannada, como os Kappiliyan e os
Annupan. Finalmente, entre os grupos de língua Oriya, que não são Dra·
vidiano. Ora, os dois primeiros grupos, pelo menos, preconizam os se-
guintes casamentos, em ordem de preferência: primeiramente, a filha da
irmã mais velha, em seguida somente a prima cruzada patrilateral e, na
falta desta, matrilateral, finalmente, e na ausência dos três primeiros
tipos, a filha da irmã caçula. O casamento dos primos cruzados aparece,
pois, intercalado entre duas formas de casamento avuncular. Não resta


  1. Folklore in the Old Testament, voI. 2, p. 105.

  2. J. Short, The Wild Tribes 0/ Southern India. Citado por Frazer, voI. 2, p. 109.

  3. Id., p. 109; compare·se com a diferenciação entre a irmã mais velha e a
    irmã mais moça no caso dos casamentos consangüíneos (cf. capo 1).


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