Claude Lévi-Strauss - As estruturas elementares do parentesco (1982, Editora Vozes) - libgen.lc

(Flamarion) #1

CAPITULO XXVIll


Passagem às Estruturas ComPlexas


Neste trabalho evitamos constantemente as reconstruções históricas. Pro-
curamos seguir o preceito de Rlvers - tio mal observado por ele -
segundo o qual "a natureza do sistema de parentesco depende da forma
da estrutura social, mais do que das diferenças de origem da população" .•
Ou, falando uma linguagem familiar ao lingüista, procuramos definir áreas
de afinidade, e não Itinerários de migração. Por Isao adquire um valor
tanto mais significativo o fato de nossa tentativa nos ter conduzido, sem
Intenção prévia nem consciência antecipada desse resultado, a nos limitar-
mos à consideração de uma região do mundo, sem dúvida vasta, mas
continua, d", fronteiras facilmente deflnlvels. Na direção norte-sui esta
região estelide-s.. da Sibéria oriental ao Assam, na direção oeste-Ieste vai
da lndla à: Nova CaledÔnla.
Foi tiii>. pequena nossa Intenção de reservar para nós este território
que constantemente, conforme o leitor deve ter podido perceber, tomamos
de empréstimo exemplos a regiões diferentes. Não pensamos, portanto,
em pôr em dúvida a existência de estruturas de parentesco elementares
nas outras partes do mundo, sobretudo na África e na América. Nos dois
continentes, o casamento dos primos cruzados e outras formas de união
preferencial acham-se abundantemente representadas. Entretanto, no es-
tado atual de nossos conhecimentos, a troca generalizada só aparece em
sua forma simples nos limites da área mencionada, que a documenta
mediante vários exemplos. Ainda mais, entre essas diversas ocorrências
contemporâneas, geograficamente limitadas, pudemos estabelecer uma sé-
rie continua de tipos intermediários, que fundam a hipótese de uma
extensão arcaica muito mais vasta e Inteiramente excepcional dessa forma
de troca.
No que diz respeito à troca restrita, a situação não é talvez tio ma-
nifesta. Na Afrlca a troca das esposas é um traço característico da socie-
dade dos Pigmeu. Ai se encontra também, tal como na Polinésia, pelo
menos elementos de organização dualista, sendo esta última brilhante-
mente representada na América do Norte. Sabemos, desde alguns anos,
que sua localização na América do Sul não é menor. Contudo, é preciso
fazer restrições. Desde muito tinha sido notado que os sistemas de me-
tades são praticamente ausentes na Afrlca. Em outros lugares sua verda-
deira natureza, e sobretudo sua homogeneidade, foram objeto de acirradas
discussões por parte dos especialistas da Polinésia e da América.' Nem



  1. W. H. Rivers, The History 01 Melanesian Society, op. clt., voL 2, p. 10.

  2. Cf. cap. VI.


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