Há também outro fator. Eu tinha uma dívida com o Aleluia. Quando o
Temer se tornou presidente da República e coube ao DEM a indicação de um
ministro, havia duas possibilidades: as pastas da Educação e de Minas e
Energia. Se a escolha do partido fosse Minas e Energia, o ministro seria o
Aleluia; se fosse Educação, seria o Mendonça Filho. Houve uma longa
discussão, o partido se dividiu e dei praticamente o voto de minerva. Com a
bancada rachada, decidi o páreo votando por aceitarmos o Ministério da
Educação. Ou seja, Mendonça Filho virou ministro, e tirei um ministério do
Aleluia. Ainda tenho essa dor na consciência.
Mas não houve ressentimentos. Durante a epidemia, ele ficou ao meu lado
sem titubear. A dinâmica do gabinete mudou quando estourou a crise
sanitária e mandamos que boa parte dos servidores trabalhasse de casa, afinal,
havia muita gente de idade. Na copa, por exemplo, o garçom era muito
velhinho. Ficou só o Leandro, um rapaz grande e largo como um armário,
que fazia só chá, café e bolo. Cada um ia lá e se servia. O Aleluia é grupo de
risco, tem mais de setenta anos, mas permaneceu.
Minha rotina era chegar ao Ministério da Saúde às sete e meia da manhã
para uma reunião no Auditório Emílio Ribas. Terminava por volta de nove e
meia e eu subia para a minha sala. Era certo como dois e dois são quatro que
o Aleluia estaria lá. Ele não ficava mais na sala dele. E era aquela coisa:
“Ligue para fulano, acho importante você falar com o Rodrigo Maia, deixa eu
ver como está o líder de tal partido, deixa eu ver como vai ser a votação tal”.
Ele fazia a rede fina, como a gente chama. “Olha, vamos colocar o Pauderney
Avelino (ex-deputado federal) para dar uma olhada nesse negócio lá em
Manaus, ele é habilidoso, deixa eu ligar.” “Ligue para o Arthur Virgílio,
prefeito de Manaus, onde a pandemia está fazendo estrago, dê um bom-dia e
mostre que está solidário. Não fale mais nada, só diga que está solidário.
Palavra do ministro nessa hora é fundamental.”
antfer
(Antfer)
#1