se comportava, que em países de clima tropical os impactos seriam muito
menores do que na Europa e que os números do corona não alcançariam os
do H1N1. Estimava que teríamos mil mortes, aproximadamente. O ritmo de
contágio seria, segundo ele, como o de inúmeras outras pandemias já
enfrentadas no Brasil e no mundo. Não havia motivo para pânico. Ele ainda
ia mais longe, alegando que os adversários do presidente Bolsonaro estavam
quebrando a economia por conta de poucas mortes. Esse discurso do Osmar
Terra era tudo o que o presidente Jair Bolsonaro queria ouvir.^2
Mas o Braga e o Moro entenderam o que eu estava dizendo e ficaram
impressionados. Moro chegou a usar a imagem de quatro Boeings caindo
diariamente. Braga Netto pediu que eu mostrasse aquilo ao presidente. Eu já
havia tentado, claro, mas ele não quis ver. Pedi, inclusive, que
providenciassem uma tela qualquer na sala dele para que eu pudesse plugar
meu pendrive cheio de números e gráficos que o ajudariam a entender a
situação. Mas era sempre “agora não dá”, “outra hora você passa”. Ele nunca
viu os números do Ministério da Saúde. Nunca. Nunca aceitou sentar comigo
para ver a realidade que o seu governo estava para enfrentar.
Se Bolsonaro estava alheio à gravidade da pandemia, Sergio Moro e Braga
Netto foram os primeiros a entender o tamanho do problema: de quantos
leitos precisaríamos, como organizaríamos o isolamento e o porquê do
distanciamento social e da diminuição total das atividades. Se estivessem
com alguma dúvida, era só juntar aqueles números ali (na tela) com outros
fatos preocupantes que começavam a surgir. A China não estava mais nos
abastecendo com os equipamentos necessários, os Estados Unidos e a Europa
compravam tudo, e nossos pedidos de material de proteção individual e
respiradores estavam sendo cancelados. Isso deixava patente que nosso
sistema de saúde não estava pronto para uma doença com aquele nível de
transmissão, morbidade e letalidade.
antfer
(Antfer)
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