Luiz Henrique Mandeta - Um Paciente Chamado Brasil

(Antfer) #1

com a covid-19. Ou seja, não haviam transcorrido nem dez dias do
diagnóstico, e a quarentena dura catorze. (Coincidência ou não, dias depois o
ministro Paulo Guedes foi para o Rio de Janeiro e se impôs dez dias de
quarentena.)
Usei esse fato para dizer que ninguém estava compreendendo a gravidade
da situação. A própria presença do general Heleno significava que a
segurança de todos estava comprometida, pois era um homem infectado, com
idade avançada e que poderia transmitir o vírus para os outros ali dentro.
“Não sei quem está orientando vocês, mas se vocês estão achando que isso
não é nada, se orientem, porque a situação é grave”, concluí.
Apresentei os números na tela, mas fiz uma cópia impressa de tudo, que
entreguei nas mãos do presidente, na frente de todos os ministros, para que
ele nunca dissesse que não tinha conhecimento dos fatos. Junto, anexei um
documento em que eu pedia que ele acatasse as recomendações do Ministério
da Saúde para que não ocorresse uma catástrofe.
Achei por bem adicionar que eu não era ministro por obra do além. Que o
presidente deveria entender o que estava acontecendo porque, do contrário, a
gente enfrentaria muitas dificuldades. Bolsonaro parecia aborrecido, mas
ouvia calado. Entendi que poderia ser mais duro ainda. Aproveitei a presença
dos militares e perguntei ao presidente se ele estava preparado para ver
caminhões do Exército carregando cadáveres, como havia acontecido na
Itália.
Falei aquilo numa referência clara a um episódio que já contei aqui.
Quando o Wanderson declarou numa entrevista que a Vigilância em Saúde
faria um protocolo de sepultamentos especial para esse período da pandemia,
Bolsonaro se irritou e me disse que aquele era um assunto mórbido demais
para ser tratado pelo governo federal. Insisti que a orientação teria que partir
do ministério, senão esses procedimentos não seriam seguidos na ponta, e ele

Free download pdf