Luiz Henrique Mandeta - Um Paciente Chamado Brasil

(Antfer) #1

respiradores e até de médicos e enfermeiros de um estado para outro,
rapidamente, dependendo da demanda.
Essa minha fala era uma clara alusão a um evento que acontecera poucos
dias antes, e não passou despercebida ao presidente. O Luiz Eduardo Ramos
havia convencido Bolsonaro a fazer uma série de videoconferências com os
governadores de todas as regiões do Brasil em busca de um alinhamento nas
medidas de combate ao novo coronavírus. Entre os dias 23 e 24 de março, as
reuniões com as regiões Norte, Centro-Oeste, Nordeste e Sul correram bem,
até o dia 25, a data da videoconferência com o Sudeste. Bolsonaro rebateu de
forma agressiva uma crítica de Doria, e o bate-boca entre os dois teve enorme
repercussão, colocando a perder tudo o que havia sido construído com os
governadores.
Foi quando Bolsonaro me perguntou se eu iria elogiar o governador de São
Paulo, João Doria. Respondi que tinha que apoiá-lo, sim, pelas medidas que
estava tomando, pois eram as corretas (e não só ele, todos os governadores e
prefeitos estavam procurando preservar o sistema de saúde). E acrescentei:
“Estou medindo palavras para não dizer isso publicamente, mas não vou
desautorizá-lo”.
Ele voltou à questão, queria saber se eu elogiaria o Doria ou não.
“Vou elogiar São Paulo”, respondi. E ainda complementei que o presidente
dos Estados Unidos, Donald Trump, já havia abandonado aquele caminho
negacionista e que Bolsonaro ficaria sozinho com o Nicolás Maduro
(presidente da Venezuela) e o Andrés Manuel López Obrador (presidente do
México), que são líderes de esquerda. Achei que era um bom argumento.
Foi assim que acabou a reunião. Um esforço tremendo, com a unanimidade
dos ministros dizendo que ele não deveria ir por aquele caminho da negação,
que daquele jeito ele estaria isolado, mas ele encerrou a reunião do mesmo
jeito que entrou nela. Fui o primeiro a sair, todos os outros ministros ficaram.

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