Luiz Henrique Mandeta - Um Paciente Chamado Brasil

(Antfer) #1

produzir, porque é só trazer a matéria-prima da Índia e colocar no
comprimido. Qualquer fabriqueta de esquina produz cloroquina há mais de
cem anos. Não tem mistério.
Para Bolsonaro a solução sempre foi simples: o projeto dele para o
combate à pandemia é dizer que o governo tem o remédio e quem tomar o
remédio vai ficar bem. Só vai morrer quem já ia morrer de qualquer maneira.
E ele não conseguiu se desfazer da ideia mesmo com as pesquisas
internacionais alertando para o risco do medicamento, dos seus efeitos
colaterais, o risco da automedicação e sobre as sérias dúvidas quanto à
eficácia da cloroquina no tratamento.
Sempre que eu ia ao gabinete dele, em cima da mesa havia caixas de
cloroquina. Nunca tinha máscaras de proteção ou álcool em gel, mas a
cloroquina estava lá. Ele bateu foto segurando caixas de cloroquina para
colocar nas mídias sociais, como se aquilo fosse a saída para que as pessoas
não adoecessem.
Como se dá a inclusão de um medicamento por recomendação do
Ministério da Saúde? Os membros da Comissão Nacional de Incorporação de
Tecnologias no SUS (Conitec), que é o órgão que dispõe sobre a assistência
terapêutica e a incorporação de tecnologia no SUS, se reúnem para avaliar o
assunto. Esse órgão é presidido pelo Denizar Vianna, da Secretaria de
Ciência, Tecnologia e Insumos Estratégicos (SCTIE). Quando o assunto é
medicamento, sempre contei com ele, que inclusive participava das coletivas.
Então, a cloroquina foi aprovada^1 para uso compassivo, ou seja, em pacientes
graves (internados sem intubação) e gravíssimos (intubados). Como não
havia evidência científica de sua eficácia, passou a ser um remédio que
ficaria à disposição nos ambientes hospitalares para os intensivistas que
estivessem iniciando o processo de tratamento. Essa nossa recomendação

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