“Querer se meter na economia? É você que deveria estar se interessando
pela Saúde para entender a sua economia. Porque você não está entendendo
nada.”
Guedes nunca ouvia o que eu tinha a dizer. Nunca pediu um dado, nunca
procurou saber de nada do que se passava na minha pasta, simplesmente
desprezava toda e qualquer informação do Ministério da Saúde.
Ele falou mais alto, eu falei mais alto. Ele tentou me interromper, eu não
deixei: “Agora você fica quieto, porque eu fiquei quieto quando você estava
falando!”.
Mourão deu um tapa na mesa e gritou: “Vamos parar com isso!”.
Bolsonaro assistia a tudo calado, de olhos arregalados.
Depois do grito do Mourão, falei que a proposta de adiamento havia sido
conversada com a indústria farmacêutica, que já esperava a medida. Mourão
intercedeu de novo: “Então conversa lá com eles, Mandetta”.
O Ricardo Salles entrou na conversa e explicou ao ministro da Economia
que eu já tinha conversado com os laboratórios, que o adiamento não seria
surpresa. Eu me virei então para o Guedes e disse que ele não conhecia o
setor em que atuava. E completei: “Estou salvando o presidente de pagar esse
mico”.
Nesse momento, o presidente me agradeceu. Veja bem, isso aconteceu
duas semanas antes de eu sair do ministério. Depois de tudo o que já tinha
ocorrido, eu ainda estava tentando proteger o governo, porque iríamos tomar
uma pancada enorme da imprensa e desagradar a opinião pública. Teria sido
péssimo reajustar o preço dos medicamentos em meio a uma pandemia.
Paulo Guedes é um economista afeito aos números, às teorias, mas não
conhece gente, não conhece povo, não conhece rua, não conhece o chão, não
conhece o SUS, não conhece política social. Zero. E essa falta de povo, essa
falta de entender gente fez com que ele jamais se interessasse pela realidade
antfer
(Antfer)
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