Falei que era um equívoco essa avaliação. Comparei com a greve dos
caminhoneiros, que durou uma semana e derrubou meio ponto do PIB. “Essa
crise do coronavírus vai durar cinco meses”, falei. “Será muito mais dura. O
mundo inteiro vai retrair. Vocês não entenderam nada.”
Eu ainda estava com a frase do presidente engasgada na garganta. Se não
queria seguir o caminho que eu apresentava, que tivesse coragem e me
demitisse, que me exonerasse, que arrumasse outro ministro.
“Porque não adianta o senhor me mandar ficar e fazer tudo ao contrário do
que o Ministério da Saúde orienta. Eu não sei mais o que fazer. Estou sendo
leal, estou trazendo os números, estou mostrando, estou explicando, não
estou inventando da minha cabeça. Esses são os números que a gente tem.”
No final, eu disse: “O senhor tem que me demitir. Seria mais leal de sua
parte. O senhor quer cobrar lealdade, mas lealdade é uma via de mão dupla.
Não se pode ser leal unilateralmente. O senhor está sendo desleal. Porque o
senhor fala uma coisa e faz outra. Então o mais leal que o senhor tem a fazer,
já que tem essa ideia de vamos dar um remédio que ninguém sabe o que é,
vamos colocar todo mundo para trabalhar, o mais leal é o senhor trocar o
ministro. A minha vida continua. Não tem ninguém aqui que tenha mais
noção de pátria, porque o senhor fica falando de pátria, de nação, e ninguém
aqui tem mais ou menos noção que o outro”.
E continuei: “Não é porque o cidadão um dia vestiu uma farda que ele é
mais patriota ou menos patriota. A minha noção de pátria eu sei de onde vem.
Vem da educação do meu pai, da minha mãe, vem dos imigrantes tanto
quanto de qualquer um que está aqui dentro. Então está todo mundo aqui
preocupado com o Brasil? Eu também estou. Não é possível que o senhor me
veja como um opositor ao seu governo dentro do Ministério da Saúde. Isso
não tem cabimento. O momento é grave”.
antfer
(Antfer)
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