Luiz Henrique Mandeta - Um Paciente Chamado Brasil

(Antfer) #1

começado e a combinação de evitar aglomerações já tinha ido por água
abaixo.
Desceu todo mundo do helicóptero e fui o último a sair, justamente para
me distanciar. Na sequência, outro helicóptero do Exército pousou com o
general Ramos e outras autoridades.
Deixei o Bolsonaro e seu grupo seguirem na frente. Vi o Caiado esperando
num canto com alguns prefeitos da região e fui até eles. A cobertura do
evento ficou por conta da imprensa local, de sites goianos, além de uma
repórter do Estadão e outro da Folha. Bolsonaro subiu para se encontrar com
o povo e depois veio em nossa direção. Foi aquela bagunça. O presidente se
destacou do tumulto que havia se formado e partiu para cima do Caiado
estendendo a mão e o abraçando. E disse, sorrindo: “Agora sim, está todo
mundo contaminado”.
O Caiado pegou imediatamente um frasco de álcool em gel, esfregou as
mãos, e vi que a assessoria de Comunicação do Ministério da Saúde
fotografou a cena. Chamei o Toni, da assessoria, e disse para ele divulgar
logo aquela imagem, antes que a foto do abraço se espalhasse. Porque era a
foto do abraço que o Bolsonaro queria que fosse divulgada, para mostrar que
o governador que havia brigado com ele não seguia o distanciamento social
que pregava. Ele queria expor o Caiado.
Não apareci nessas fotos porque fiquei o tempo todo a dois ou três metros
de distância da comitiva. Quando eu via que não tinha jeito ou alguém me
chamava, eu pedia licença e dizia que respeitassem a distância mínima
estipulada pela OMS. Só então falava o que tinha para falar. Bolsonaro me
chamava para perto dele e eu repetia a mesma frase, seco, toda vez: “Eu não
fico em aglomeração”.
Fiz questão de acintosamente mostrar a minha insatisfação em estar ali
com pessoas que se comportavam daquele jeito. Bolsonaro entrou no hospital

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