Luiz Henrique Mandeta - Um Paciente Chamado Brasil

(Antfer) #1

participando das visitas aos diferentes centros de saúde. Ele me parece uma
boa pessoa, competente, mas claramente tem dificuldades de comunicação.
Quando soube que ele seria o novo ministro, entendi que o padrão de
comunicação que eu havia instaurado até ali terminaria.
No dia seguinte, vesti um terno para a cerimônia de transmissão, e me senti
totalmente inadequado, estranho, mas não tinha sentido ir com o colete do
SUS. Fui com Terezinha, e quando entramos no Palácio do Planalto ela foi
levada pelo cerimonial para se sentar ao lado da mulher do Teich. Todos os
ministros estavam presentes, e acho que estavam todos um pouco tristes. No
meu discurso agradeci um a um, nominalmente. E agradeci também a minha
esposa pela educação que tinha dado aos nossos filhos. Essa foi, na verdade,
uma provocação ao Bolsonaro e seus filhos, como corretamente a imprensa
“leu” a minha fala. Michelle Bolsonaro estava lá, e fez questão de ir à minha
despedida. Ela é uma figura ímpar, sempre disposta a ajudar nas políticas que
contemplem pessoas portadoras de deficiência, um causa que também me é
muito cara.
Quando saí da sala, a imprensa se aglomerava num cantinho, e os
jornalistas me chamaram e me perguntaram quais eram os próximos planos.
Respondi que era cortar o cabelo, que estava enorme.
Eu e Terezinha saímos de lá e fomos para casa trocar de roupa, almoçar e
pegar o Bingo, nosso vira-lata. Colocamos as malas no carro, um CR-V 2010.
Sentei-me ao volante, liguei o som e selecionei uma playlist. Tocou “Hey
Joe”, do Jimi Hendrix. Desde que namorava a Tereza eu colocava “Hey Joe”
no mais alto volume para ouvir as notas da guitarra. Adoro essa música.
Minha mulher sempre reclamava do volume alto. Dessa vez, o som estava
baixinho. Dei a partida no carro e seguimos em direção a Campo Grande.
Terezinha, sem dizer nada, torceu o botão do rádio até a música ficar no
volume máximo. Acabava ali minha história como ministro da Saúde.

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