proximidade de menos de dois metros entre as pessoas. Portanto, o
isolamento quebraria a transmissão. Diante disso, a nossa missão era
encontrar pessoas suspeitas, mandá-las para o isolamento, entrar com uma
equipe, coletar material e fazer os exames. Caso fosse confirmado que
alguma tinha o vírus, ela ficaria em isolamento por catorze dias.
Começamos então a fazer notas técnicas e boletins diários. A rotina de
trabalho entre o final de janeiro e o início de fevereiro consistiu nisto:
providenciar as compras, fazer a leitura dos casos e observar como as coisas
aconteciam no mundo. Em entrevistas para a imprensa, reiteradamente pedi
calma, porque não tínhamos indicações concretas que justificassem pânico.
Mas o vírus começou a se espalhar com mais força pela China. A OMS,
então, mudou de posição. Não era só Wuhan que tinha problemas,
informaram eles, agora era todo o país. Por consequência, todos que vinham
da China eram considerados suspeitos. Isso aconteceu num intervalo de duas
semanas.
Aí começaram os protestos dos brasileiros que estavam em Wuhan e
queriam voltar para o Brasil. O presidente dos Estados Unidos já tinha
mandado um avião para buscar seus compatriotas, mas o presidente Jair
Bolsonaro teve reação oposta. Disse que não pretendia buscar ninguém e
usou o argumento de que havia algumas dezenas de brasileiros em Wuhan,
enquanto aqui temos 210 milhões de pessoas. O resgate não fazia sentido.
Mas os brasileiros isolados na cidade chinesa gravaram um vídeo que se
espalhou pelas redes sociais, um terreno que sensibiliza Bolsonaro.
Começou a pressão.
A posição dos Estados Unidos certamente pesou, e o presidente acabou
mudando de opinião. Sem consultar o Ministério da Saúde, Bolsonaro se
encontrou com o ministro da Defesa para decidir os próximos passos.
antfer
(Antfer)
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