Luiz Henrique Mandeta - Um Paciente Chamado Brasil

(Antfer) #1

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Estávamos nos preparando para a hipótese de surgir um infectado no Brasil
quando soube que uma jovem estudante brasileira que saíra justamente de
Wuhan em 23 de janeiro, no último voo antes do bloqueio, havia apresentado
sintomas da doença. Ela era aluna de uma universidade local e morava em um
alojamento estudantil. Ainda na China, teve febre. Preocupada, ligou para o
pai, que, aflito, sem saber o que fazer, decidiu que seria melhor que ela
interrompesse o intercâmbio e voltasse para o Brasil.
A estudante chegou a Minas Gerais e foi para a casa da família. A gripe
piorou e o pai a levou ao hospital público Eduardo de Menezes, especializado
em doenças infecciosas e referência no estado em tratamento do HIV. O
médico suspeitou do novo coronavírus, mas ficou com medo de tratá-la.
Afinal, era uma doença sobre a qual quase nada se sabia e que poderia trazer
risco de contágio para a equipe do hospital. Ela foi encaminhada a uma
infectologista, que também suspeitou de covid-19 e solicitou que o teste fosse
feito. A equipe do hospital então coletou o material.
Ao ser informado sobre o caso, logo pensei: “E os passageiros que estavam
nas fileiras próximas ao assento dela?”. Precisávamos localizar aquelas
pessoas. Mas, felizmente, era alarme falso, ela não tinha a doença.
Rapidamente começaram a surgir histórias de preconceito contra pessoas
de origem asiática, apontadas como disseminadoras da doença. Em

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