Luiz Henrique Mandeta - Um Paciente Chamado Brasil

(Antfer) #1

como rótulo do vírus. Historicamente, sabemos que, ao dar o nome de um
país ou animal para um vírus, isso causa sérios danos econômicos. Pouco
tempo atrás, a gripe suína provocou consideráveis prejuízos no mundo
inteiro. A associação da carne de porco com a doença derrubou o consumo e,
por tabela, quebrou inúmeros produtores. Num passado mais longínquo, a
gripe espanhola creditou todo o sofrimento com a pandemia à Espanha, e a
ideia permaneceu mesmo com a descoberta de que o vírus não havia surgido
no país.
O caso do H1N1 foi identificado em Nova York em um grupo de estudantes
que havia estado no México. No começo, o vírus foi chamado de gripe
mexicana, mas logo houve uma reação que fez com que passassem a chamá-
lo de H1N1. E foi esse histórico que pesou na nomenclatura de covid-19 para
a doença causada pelo novo coronavírus. Foi uma decisão muito monitorada
pela China e por outros países. Não deveria haver qualquer menção a Wuhan,
a qualquer tipo de consumo de carne animal, nada nesse sentido. O uso de um
nome neutro fazia parte da agenda diplomática dos chineses.
Também no campo da diplomacia, já no mês de março, quando os números
aumentavam no Brasil, fui à Embaixada do Japão acompanhado do deputado
Luiz Nishimori, do PL do Paraná. O Japão ainda tinha a pretensão de manter
o calendário dos Jogos Olímpicos, entre 24 de julho e 9 de agosto. O país
precisava construir uma rede de apoio para a realização do evento, e queria
saber da experiência do Brasil em 2016. Para quem não se lembra, na véspera
dos Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro houve uma situação semelhante,
ainda que hoje saibamos que em um grau muito menor. A emergência
sanitária do Zika vírus fez com que alguns atletas e setores da imprensa
estrangeira considerassem que o evento deveria ser cancelado por causa do
risco de uma pandemia.

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