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Em 10 de fevereiro, quando não havia casos no Brasil e ainda buscávamos
identificar algum brasileiro infectado, fizemos uma reunião no Itamaraty com
o ministro interino das Relações Exteriores, Otávio Brandelli, o embaixador
da China, Yang Wanming, e seus respectivos assessores.
Eu tinha a expectativa de que o nosso Itamaraty tivesse preparado uma
carta ou algo do gênero para ser enviada ao presidente chinês ou a alguma
outra autoridade do governo. Era praxe que um chefe de Estado se dirigisse
ao outro nessas ocasiões, sobretudo quando havia fortes relações comerciais
entre os países.^1 Mas não surgiu nada. A única sinalização oficial do governo
brasileiro ao povo chinês foi um documento feito por mim e entregue ao
embaixador — uma carta feita pela minha assessoria internacional e
endereçada ao ministro da Saúde da China, com quem eu tinha um bom
relacionamento graças a encontros em reuniões de organismos internacionais.
Eu desejei força naquele momento difícil e coloquei o Brasil à disposição,
caso pudéssemos ser de alguma ajuda.
É bom lembrar que, naquela época, 10 de fevereiro, achávamos que a
doença estava restrita ao entorno de Wuhan, mas o embaixador nos chamara
para informar que o governo chinês havia decidido interromper
temporariamente as exportações em função do avanço da epidemia. Eu quis
saber até quando permaneceriam sem vender para o Brasil, afinal, nós e o