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Nesse mesmo dia, 26 de fevereiro, eu também fiz a primeira crítica pública à
OMS. Disse que o órgão tinha de afirmar que se tratava de uma pandemia,
porque se a OMS não fizesse esse alerta e continuasse determinando que se
procurasse caso a caso de pessoas infectadas, estaria impedindo que
soubéssemos de fato como se dava a circulação do vírus em caráter global. A
crítica não foi bem recebida. Tedros Adhanom, diretor-geral da entidade,
respondeu que o vírus ainda poderia ser contido e que não deveríamos usar a
palavra pandemia de forma descuidada.^1
Quando divulgamos o primeiro caso na quarta-feira de Cinzas, era quase
como se confirmássemos aquela máxima de que no Brasil o ano só começa
depois do Carnaval. E foi mesmo assim. A sensação era de que toda a
imprensa saíra definitivamente da “agenda verão”, deixando para trás a pauta
do Carnaval, e as redações voltaram com tudo. A cobertura das nossas ações
passou a ser diária. As coletivas, que já eram frequentadas por órgãos da
imprensa que tinham setoristas de saúde — o que, a propósito, é uma coisa
que faz muita falta na imprensa brasileira, pois as redações têm enxugado
muito a cobertura de saúde —, começaram a contar com a presença de
jornalistas de outras áreas, como a de política e a da crônica de Brasília. Eles
passaram a acompanhar os boletins epidemiológicos e a imprensa deu início a
uma cobertura maior do que a qualquer coisa que a gente tivesse visto antes.