O festival da falta de cuidado na posse da Regina Duarte não era uma coisa
excepcional. Havia um descompasso entre o grau de entendimento da equipe
do Ministério da Saúde sobre a dramaticidade do momento e o restante do
governo. No Palácio do Planalto parecia não existir a consciência de que
estávamos sob o risco de uma doença infecciosa. Para se ter uma ideia, não
havia sequer um frasco de álcool em gel no gabinete do presidente da
República. Quando eu ia despachar com o Bolsonaro, levava o álcool em gel
do Ministério da Saúde. Somente depois de muita insistência colocaram ali
um frasquinho, que mal era utilizado.
A sala do presidente era um entra e sai sem cerimônia. Eu presenciava isso
o tempo todo. Bolsonaro é um homem de muito contato físico, muito abraço,
muito cumprimento, muito aperto de mão. Eu alertava o ministro Augusto
Heleno, titular do Gabinete de Segurança Institucional, sobre o risco que
todos estavam correndo. Dizia insistentemente que era necessário tomar
medidas de precaução para que não houvesse contágio no primeiro escalão do
governo, mas o Heleno respondia que o vírus estava distante de nós, que não
era bem assim... Meus alertas entravam por um ouvido e saíam pelo outro. A
verdade é que ninguém do entorno do presidente estava acreditando no risco
de contágio, até que veio a viagem do presidente Bolsonaro aos Estados
Unidos, em 7 de março.
A comitiva contava com autoridades como ministros de Estado, senadores,
secretários. Oficialmente eram 22 nomes, mas o número total era maior, se
contarmos com técnicos, assessores e outros políticos que foram aos Estados
Unidos em voos comerciais. Chegaram a me perguntar se eu iria, mas eu
disse que tinha muito o que fazer no ministério e não poderia me ausentar. A
verdade é que eu jamais participaria de uma viagem dessas. Integrar aquela
comitiva significava pegar um avião com destino à Flórida, que a gente sabia
que estava cheia de casos positivos para o vírus. Era um lugar de alto risco,
antfer
(Antfer)
#1