essa gente toda? É muito fácil falar para colocar num estádio de futebol, por
exemplo, mas não é simples assim. O Wanderson sabia exatamente o
tamanho do problema, mas tive que dar a ordem para ele retificar o boletim.
E a retificação passou pelo Gabbardo, o secretário-executivo do Ministério da
Saúde, que concordou que ela tinha que ser feita. Foi uma decisão política.
Wanderson acatou a ordem, mas ficou arrasado. Aborrecido a ponto de me
dizer que achava melhor sair do cargo de diretor de Vigilância em Saúde.
Falei que não aceitaria um pedido de demissão dele, que naquele momento
ninguém iria sair do ministério. “Vamos trabalhar, bola para frente”, eu disse.
Mas ele sentiu que sua autoridade havia sido diminuída e que, de alguma
maneira, eu concordara com aquilo. Eu fui, na cabeça dele, cúmplice da
desautorização do seu trabalho.
No dia seguinte, Wanderson não foi trabalhar e todo mundo ficou
preocupado, achando que ele não voltaria mais. Mas ele logo apareceu e me
procurou para conversar. Falou que estava com síndrome de burnout, que é
quando o estresse e a exaustão acabam afetando o trabalho e os
relacionamentos da pessoa. Eu discordava do diagnóstico, mas ele achava
que sim. A verdade é que a pressão era enorme para todo mundo no
ministério.
Uma preocupação constante durante minha gestão na crise do novo
coronavírus foi pilotar o estresse que, volta e meia, abatia membros da
equipe. Não era só a responsabilidade de ter que tomar as melhores decisões
e a quantidade de trabalho, havia também a insegurança política, pois a
insatisfação da presidência com a minha condução do ministério já se
mostrava bem clara. Gosto de trabalhar em situações de crise, isso me
estimula. Outras pessoas sentem mais a pressão.
Wanderson é um profissional único, tem uma história de vida admirável e
foi um dos pilares da minha chefia. Ele tem uma filhinha de dois anos com
antfer
(Antfer)
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